quinta-feira, 25 de abril de 2013

"Eucaristia é verdade e vida?"

Nós, padres, celebramos Eucaristia diariamente; não raras vezes mais que uma vez ao dia...
Naturalmente celebramo-la como no-lo manda e ensina a Santa Madre Igreja, segundo as normas e as rúbricas litúrgicas, tornando-nos, também assim, testemunhos da catolicidade da Igreja...
Porém, penso muitas vezes, em quantas das nossas Eucaristias há verdadeiro encontro com Jesus Cristo? Em nós, que presidimos às celebrações e nos demais fiéis que nelas participam?
Haverá liturgia válida, e o amor a Jesus de Nazaré? Ao Seu reino, à Sua Palavra, ao Seu sonho de um mundo de homens iguais, fraternos, irmãos?!
Na verdade, não basta celebrar Eucaristia; não basta comungar o Corpo de Cristo; não basta beber do Seu Sangue; não basta dizer "fazei isto em memória de Mim..."!
Por mais soletradas e nítidas que sejam estas palavras proferidas por nós, elas não são, necessariamente, sinal de profunda e autêntica comunhão com Deus e com a Sua vontade!
Os ritos, as liturgias, as regras e as normas, são simplesmente caminho para um encontro de vida bem maior, derradeiro, transfigurador, arrebatador. Ou não serão, rigorosamente, nada!
Para que Cristo possa, mesmo, entrar em nós, nos nossos corações, capaz de os transformar, urge que nos esvaziemos de nós mesmos, das nossas "verdades imutáveis", das nossas sobrancerias dogmáticas, das nossas certezas definitivas e indiscutíveis!
Porque demasiadas vezes estamos tão cheios de nós mesmos, tão cheios do que pensamos e dizemos com rotina e habituação, com fragilidade e com pecado, mesmo que celebremos Eucaristia, Deus não "cabe" já em nós! Os Seus sentimentos, o seu Coração, já não cabe em nós! A não ser que nos predispunhamos a esse mesmo esvaziamento, à humildade, à simplicidade, ao despojamento real e efectivo mais que pregado ou dito, a não ser que nos atrevamos à cumplicidade com o Evangelho, mesmo que nos custe - e precisamente porque custa - Deus não "caberá" nas nossas vidas! Terá lugar nas nossas palavras, na nossa boa vontade, nas nossas pregações, em cada boa intenção, mas estará ausente do real da nossa vida, estará longe do nosso coração de discípulos.
Como afirmava o Papa Francisco, sem a paixão pela Cruz, pela humildade, pela misericórdia, pela fraternidade, podemos ser bispos, ser padres, ser cristãos, mas não seremos jamais discípulos!
A Eucaristia é essa oportunidade única e irrepetível de nos tornarmos "um" com Aquele que pregamos e dizemos acreditar; a Eucaristia desafia-nos a tornarmo-nos "vítima de amor" com Aquele que é o próprio Amor oblativo, entregue, até ao fim...
Só assim a Eucaristia se vai tornando vida na nossa vida; e a nossa vida se vai transfigurando na vida de Deus.
O mistério do Altar, celebrado e vivido com verdade e autenticidade, compromete-nos com a Paixão de Jesus, ou seja, essa decisão maior de amar sem "fazer contas", sem pensar "que temos a ganhar ou a perder"; essa decisão de nos tornarmos nós mesmos "grãos de trigo" moídos, para que os outros tenham vida.
A Eucaristia tem de mudar a nossa vida todos os dias; a Comunhão tem de nos ajudar, verdadeiramente, a comungar a "história" de cada outro e não, e nunca, traduzir-se em acto piedoso, intimista, sem compromisso com cada coração!
Com tanta Eucaristia celebrada, não deveríamos todos nós, Igreja, ser já mais verdadeiros, mais fraternos, mais justos, mais misericordiosos, mais transparentes, mais irmãos, mais santos?
Serão as nossas Eucaristias "Vida" mais que Liturgia e habituação?! 
Estaremos dispostos à coerência própria de quem celebra tão grande mistério?
Haverá mais dignidade no mundo, mais verdade na Igreja, mais caridade nas nossas palavras, mais justiça e fraternidade nas nossas relações inter-pessoais. De certeza que sim...

5 comentários:

  1. Partilhar com muita verdade,com muito sentido, e que nos deixa sinceramente a pensar.
    Humildemente quando entro a porta da igreja, muitas vezes penso se consigo ser digna de todo o amor e sacrifício de Jesus, e Lhe peço de mãos vazias, que me dê o discernimento para entrar na realidade do amor,do perdão ,da humildade para assim conseguir ser mais de Deus.

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  2. Pe António, o que seria de nós sem a Misericórdia de Deus que aproveita todos os nosso actos e os transfigura de miséria em Caminho, apesar de nós? O que seria de nós sem o Seu Amor?
    Só merecemos tão grande Salvador por causa do seu Amor... não de algum mérito do nosso coração imperfeito e pecador.
    Agradecer e louvar, bendizer e glorificar é o que temos de fazer para que sejamos moldados em docilidade e - eventualmente - o nosso coração permita que Jesus o ocupe completamente. Linda a paciência de Deus :)
    Beijinhos

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  3. Sinto estas palavras. Quantas vezes as nossas Eucaristias e a mossa liturgia é tudo menos verdade e vida! Somos os principais adversários da fé cristã pois contra testemunhamos aquilo que professamos. Falamos bem demais e vivemos tao pouco. A começar por nós leigos inseridos no mundo. Que Deus mos ajude à conversão.

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  4. " Eucaristia é verdade e vida?"
    A Eucaristia,tem que ser para nós cristãos tudo...amor,vida com muita verdade e consciência,é de uma emoção forte e amor, aproximar do altar e receber Jesus Cristo que se fez alimento na Hóstia Consagrada para a nossa alma,saciando a nossa sede é o culminar do amor de Cristo por todos nós.
    Eu reconheço que nunca estarei digno de vos receber em comunhão,mas são as palavras como estas,deste partilhar, que nos chegam a nós, e nos fazem refletir e desejar percorrer o caminho certo, que nos leve à conversão e à humildade e ao reconhecimento da nossa fragilidade.

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  5. Foi há muitos anos que me tornei catequista, mas, em cada dia que passa...estou sempre a aprender e a enriquecer.
    Este seu pensamento não é mais que uma deliciosa lição de catequese.
    A Eucaristia tem de ser vida, tem de ser vivida, tem de ser comungada e sentida com todos e por todos. Nós temos que comunhão, não por obrigação, mas por necessidade. Cristo não pode ser para cada um de nós ´o amor dos horas vagas´. Tem de ser o amor incondicional que nos faz sermos mais cristãos, mais de Deus, mais humanos, mais fraternos, mais unidos.
    Quem seria eu...quem serias tu sem Cristo na tua vida ? Um simples ser humano sem crença no presente e muito menos no futuro.
    No seu pensamento podemos ler a dada altura: “A Eucaristia tem de mudar a nossa vida todos os dias; a Comunhão tem de nos ajudar, verdadeiramente, a comungar a "história" de cada outro e não, e nunca, traduzir-se em acto piedoso, intimista, sem compromisso com cada coração!”
    Frase riquíssima e que nos mostra como nós podemos ´viver´ cada Eucaristia de uma forma muito especial e única.
    Eu dou graças a Deus todos os dias pela benção que me vem dos Céus e adoro (mais do que ler...) sentir estes pensamentos e pensar se eles estão em compasso com a minha mente e com o meu coração.

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