quarta-feira, 11 de julho de 2012

"Dom do Alto" que se implora...

De hoje a três meses a Igreja iniciará aquilo a que o Papa Bento XVI designou de "Ano da Fé".
Pede-nos a todos um renovado vigor, uma sublinhada atenção, uma profundidade maior, um testemunho fecundo, da fé que afirmamos possuir e viver no nosso quotidiano...
Presumo que já muitas ideias, incontáveis projectos, inúmeras acções, intermináveis programas, estarão já delineadas na maioria das paróquias, das dioceses, enfim, da Igreja Universal...
Três meses nos separam desse "passo" que preencherá o peregrinar da vida eclesial e pautará, certamente, o viver quotidiano das comunidades cristãs.
Na Carta Apostólica que o Papa publicou a anunciar e a convocar esse mesmo "Ano da Fé" sublinha veementemente a urgência da "hora" inadiável para que esta nossa fé seja proposta ao mundo quando este, progressivamente, se afasta de Deus, da Igreja, numa indiferença crescente da Pessoa e do Mistério de Jesus de Nazaré.
Uma ideia me "assalta" desde logo: o perigo das "acções", dos "programas", das "iniciativas" pastorais relativamente à "novidade" do "Ano da Fé"!
Recordaremos, decerto, que não há muito tempo vivemos o chamado "Ano Paulino", o "Ano Sacerdotal"... e que restou de toda essa panóplia de gestos, ritos, acções, palestras, encontros, por causa desses mesmos "Anos" especiais?!
É óbvio que tenho a claríssima consciência de que sou "nada" para interrogar ou questionar estas iniciativas do Santo Padre; é óbvio que estarei em comunhão com os projectos que a Diocese, a Vigararia propuserem como caminho a seguir; é ainda óbvio que o "Ano da Fé" será ocasião, motivo e causa de "caminhos" a trilhar nesta minha Comunidade...
Porém, não deixo de recear que o "Ano da Fé" e a "novidade" que ele comporta sejam razões de acção mais que de oração; sejam motivos mais de anúncio de que de denúncia que urge proclamar; sejam causa mais de "entretenimento" pastoral quantificado pelo número de actividades do que de ousadia de fidelidade, de exercício de comunhão, de "fantasia da caridade" (expressão do nosso Patriarca)!
Sabemos todos que ninguém pode dar ou partilhar aquilo que não tem! Donde resulta, no meu entender, que o grande caminho a trilhar neste "Ano da Fé" seja, precisamente, o da decisão pessoal de crescer, de aprender e reaprender, a beleza de Jesus de Nazaré, a fecundidade e radicalidade da Sua Palavra, a força e a exigência do Reino que a cada coração quer ofertar como resultado da Sua entrega no Madeiro da Cruz.
Gostaria que o "Ano da Fé" nos ocupasse e preocupasse na aventura do conhecimento da real Boa Nova que Cristo oferece aos homens de cada tempo.
Gostaria que o "Ano da Fé", mais que uma "colecção" de acções se transformasse num desejo profundo, real e urgente de uma maior comunhão com cada homem nosso irmão, partindo da consciência que a grande prodigiosa tarefa da evangelização consiste na capacidade de nos aventurarmos ao Mandamento Novo tão proclamado e vivido por Aquele a Quem temos por Senhor!
Não gostaria nada que a Igreja, as Dioceses, as Paróquias, nós, Párocos, nos detivéssemos na programação mais ou menos interminável de conferências, catequeses, encontros, em detrimento da consciência de que a Fé é dom do Alto, que se implora, pede, suplica, incansavelmente.
Desejaria que, desde já, a nossa oração, pessoal, familiar, comunitária, fosse a suplicar como os Apóstolos: "Senhor, aumenta a nossa fé"!
E naquele dia de Novembro de 2013, a Igreja estaria bem mais enriquecida, bem mais santificada, porque mais consciente de que apenas "possuindo" pode partilhar aquilo que de mais valioso e nobre possui: a fé em Jesus de Nazaré.

11 comentários:

  1. Porque a Fé é dom de Deus, não sabemos quando a temos; só sabemos, por ela, que se a pedirmos nos é concedida, que só ela nos dá sentido e que se deixarmos de a pedir a perdemos.
    Assim, não faz sentido falar sobre ela - não há nada a dizer - só faz sentido pedi-la e agradece-la cada vez que a reconhecemos nos nossos irmãos. Porque em nós próprios, não a podemos reconhecer, só os outros a reconhecem. Acho isto lindo, Pe António :) beijinhos

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  2. A fé é um ato ao qual aderimos na confiança à pessoa de Jesus,filho de Deus e ao conteúdo de tudo o que ELE nos revelou por meio dos Seus Apóstolos e da Sua Igreja e disso temos que dar testemunho e partilhar, mas partilhar "Só possuindo se pode partilhar"e muitas vezes "as acções,os ritos" afasta-disso mesmo, da fé da entrega, em prol de algo menos útil,devia caber a cada «Pastor»decidir ,porque só ELE conhece como conduzir as suas «ovelhas».
    Se Deus não está presente,o mundo,tudo se torna insuficiente aborrecido,a grande alegria vem do facto de existir amor e é essa afirmação essencial da fé.
    O amor,a entrega pode haver grandes «eventos» e muita pouca fé,e muito amor sem «eventos»,e muita FÉ.

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  3. A fé realmente é bem mais do que umas idas à missa ou uns tempos de voluntariado. A fé tem de ser paixão por Jesus, serviço desinteressado à Igreja, verdade nas nossas vidas, caridade nos nossos lábios. Para que em vez de repudiar, a Igreja tenha a capacidade de atrair. E apenas com homens apaixonados por Jesus e pela sua radicaliade anunciamos a nossa fé.

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  4. Como eu compreendo os seus receios! Mas também me assiste a esperança de "conseguirmos" com a sua ajuda, com a sua criatividade, formas de viver este ano de tal modo que o "mote" seja esse mesmo: " Senhor aumenta a minha fé"! Eu conto com isso porque esse é o meu pedido diário, razão pela qual o desafio que lança me entusiasma. Vamos a isso?!
    LF

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    1. Tenho os mesmos sentimentos que aqui são expressos.

      Como tantas vezez já ouvimos - O mundo está farto de palavras - Então que com a nossa vida dêmos testemunho da nossa Fé. Tb eu peço todos os dias da minha vida
      "Senhor aumenta a minha Fé"

      JR

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  5. O fruto da oração é o aprofundamento da fé,
    e o fruto da fé é o amor
    e o fruto do amor é o serviço
    e o fruto do serviço é a paz
    e por isso precisamos rezar para ter um coração limpo e podermos ver Deus,e quando vemos Deus começamos a amar os outros.
    Amar os outros é enxergar,é darmos as mãos,é oração,é amor,é entrega,é louvar e pedir ao Senhor humildemente "Senhor,aumenta a nossa fé"
    e que os nossos «Pastores»também consigam sentir a Tua Vontade, para assim a seguirem e encontrarem o melhor caminho para que todos aprofundemos a nossa fé com amor.
    Pe.António, bem haja,boa tarde.

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  6. É... a oração na base de cada momento da vida...

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  7. Espero também eu que o Ano da Fé consiga um florescimento do espírito evangélico da Igreja. Que seja uma oportunidade de nos convertermos, de submergirmos dos marasmos e sonos de que somos pródigos. Que consiga mostrar ao mundo que ser igreja é acreditar em jesus mais que em ideia, filosofias, rituais, tradições amorfas e sem sentido que ainda tantas vezes abençoamos.

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  8. Um comentário...um pensamento, que nos ajuda a reflectir muito, e em que todas ´as águas´ vão dar à fé. Cada frase, faz-nos pensar, mas esta foi o resumo e o pilar de todo o texto (na minha opinião):
    “Gostaria que o "Ano da Fé" nos ocupasse e preocupasse na aventura do conhecimento da real Boa Nova que Cristo oferece aos homens de cada tempo.”
    Eu também gostaria....Eu também gostaria que o Ano da Fé fossem todos os anos, porque ela é a base da nossa vida. Irão dizer: a base é Cristo. Claro que é ! Mas se não tivermos fé....Cristo passa-nos ao lado e nós nem lhe sentimos o rasto. A igreja, e quando eu digo a igreja, digo os homens, vive muito em função de...quando deveria viver em função d´O. Deveríamos ver a nossa vida, a nossa existência, com Cristo sempre no topo e depois vinham as ´ramificações´. Acordar e adormecer com Cristo. Não por rotina (estamos fartos de rotinas); não porque “foi assim que a minha mãe me ensinou”; não porque “o padre diz”. Mas porque eu quero, porque EU ACREDITO ! Não é um favor que fazemos ao Senhor (por vezes até parece). Ele é que nos dá a graça de podermos acreditar. Vamos à missa, como uma vez alguém me disse: “Vou ao Sábado, porque assim já fico despachada !” Isto é a nossa fé...despachada, ela tem de ser despachada, porque há outras coisas mais importantes a fazer. NÃO, não e sempre não. Errado. Nós temos que ser o suporte dos alicerces que Deus construiu para cada um de nós. E tendo os alicerces uma base sólida, nós temos que ser firmes para que eles nunca caiam. E sendo os alicences uma ´construção do Criador´, serão mesmo muito sólidos. A fragilidade vem depois...no vacilar do nosso acreditar. Não é fácil, não é para todos (infelizmente). Há quem saiba o antes e o depois. E eu sei, graças a Deus sei o que é o depois. Hoje posso dizer que construi e continuo a ´construir´ a minha fé. Continuo sempre a alimentá-la. Recebi-a por Graça do Senhor e mais tarde, há uns tempos, ela galgou por ´herança´. E é tão bom ter fé ! Tenho pena dos que não sentem nada (ou dizem não sentir). Mas no fundo sei que esses sabem que lhes falta alguma coisa e sentem a nossa riqueza que, poderá ou não contagiá-los. Tenho alguém em minha casa que disse um dia destes...”Sou baptizado.....mas tenho dificuldade em acreditar, apesar de ter sido educado em colégios de padres. Confesso que tenho “ciumes” de quem acredita ....porque acredito que é um passo muito importante na vida.” Isto foi dito numa entrevista. Achei graça ao...”tenho ciúmes !” Era bom que conseguissemos ´abrir´ a cabeça de todos e colocar lá um pózinho que se chama ´fé´. Mas isto não tem nada a ver com pózinhos, tem a ver com luzes, com poderes de Deus. “Muitos são os chamados, mas poucos os escolhidos...” podería-se empregar esta lindíssima frase aqui neste texto.
    Eu acredito, sei que tenho uma fé sólida, mas ainda tenho um caminho tão grande a percorrer...Busco sempre mais, quero alcançar mais, mas sei que esse ´mais´ nunca vai chegar ao topo, e ainda bem, é sinal de que estou sempre em ´crescimento´ !
    Ainda ontem estive nas Edições Paulinas e comprei dois CD´s que são de uma riqueza espiritual...que não há palavras.
    Que Deus nos ilumine, não apartir de Outubro....mas sempre, porque o Ano da Fé, tem de ser sempre dentro de nós. Ela é a base sólida da nossa vida. Não podemos viver por tradições, nem rituais...vivamos COM FÉ.
    Que Deus seja louvado pelos homens feitos padres que colocou no nosso percurso...
    Obrigada Padre António pela sua ansiedade em ser ordenado, pela sua alegria pela chegada da hora. Às vezes, ou...quase sempre, está aí o ´clique´ entre ser padre...e ser padre. O que nos contou na homilia do dia 7...foi lindo ! São estas ansiedades de Deus, que nós precisamos. Continue sempre com essa força (dentro e fora do altar), para que haja gente a ser ´contagiada´.
    R.A.

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  9. A fé é como fogo:
    quanto mais se dá mais se tem!
    e se não se partilha ou oferece,
    a sua luz não se difunde a sua chama extingue-se,apaga-se
    e acabaremos mergulhados na noite,na escuridão da nossa própria existência.
    Eu não ouso,nem passa pelo meu pensamento pensar que a minha fé é maior ou menor do que aquele que faz isto ou aquilo,que fazem muitas ou poucas idas à missa...Desde o princípio do dia até ao fim do dia,o nosso coração ,a nossa vida tem de estar de acordo com os planos que Deus tem para nós, e nós só temos que os realizar com amor muito amor com entrega e LHE pedir Luz, para nos iluminar o caminho para o podermos trilhar e assim aumentar a nossa fé.
    Quantas vezes ao sair de casa conseguimos difundir a nossa fé,fazendo alguém pensar que gostava de sentir o mesmo,e acolher a semente,só Deus sabe o que é melhor para todos nós e para mim não consigo falar de outro modo,Que Deus tenha Misericórdia de todos nós.

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  10. Ano da fé?! e os outros foram o quê? De facto partilho com quem diz que pede sempre mais fé, e quando reza peço mais fé, mas distinguir um ano como o de fé e os futuros serão de quê...?! Não publique Pe porque não vale a pena,percebo que o papa esteja preocupado com a fé, tem motivos para isso.

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