quarta-feira, 4 de julho de 2012

"Livres para escolher..."

"Eu detesto e rejeito as vossas festas; e não sinto nenhum gosto nas vossas assembleias. 
Se me ofereceis holocaustos e oblações, não as aceito, nem ponho os meus olhos nos sacrifícios das vossas vítimas gordas. 
Afastai de mim o vozear dos vossos cânticos, não quero ouvir mais a música das vossas harpas. 
Antes, jorre a equidade como uma fonte, e a justiça como torrente que não seca".

 
Palavra de Deus hoje proclamada em toda a Terra; palavra que questiona, desassossega, interpela e desafia à reflexão e à conversão!
Sentimos, pressentimos, um Deus "cansado" de liturgias e rituais; percebemos um Senhor "saturado" de "bocas" cheias de "sagrado" e corações vazios de "humano" - portanto - de divino!
Reconhecemos um Deus "magoado" de lábios que vociferam cânticos e salmos, entoam melodias e hinos de louvor mas, simultaneamente, ocos de verdade e de justiça, de equidade e de transparência, de humildade e de serviço!
Deus, o Deus da Sagrada Escritura, o Deus revelado e apresentado em Jesus de Nazaré, é muito mais, é imensamente mais, que um "receptáculo" de sons religiosos, de músicas espiritualistas, de cancioneiros harmoniosos, de cultos, oblações ou holocaustos desprovidos de vida, de coração, de afecto, de paz, de ternura!
Olhar o mundo envolvente, a realidade concreta que nos é dada viver e construir, a Igreja que havemos de enobrecer e santificar, não se compadece com o "estaticismo" da nossa piedade desencarnada, com a indiferença do nosso olhar e do nosso sentir diante dos desesperos e inseguranças de quem peregrina bem ao nosso lado...
A citada infinitamente "civilização do amor" não se conquista nem edifica apenas de "mãos postas"; ao contrário, elas são "cajado", são "alforge", são "pão", são "tenda", dos muitos que anseiam beber dessa "torrente de justiça que não seca" e dessa fonte donde "jorra a equidade".
"A fé sem obras é morta" como bem sabemos!
Então, urge ressuscitar essa mesma fé, urge fazer renascer esse coração "gigante" que existe em quantos acreditam em Jesus Cristo, urge erguer a nossa vida a fim de sermos vez, de sermos voz, a quantos já emudeceram tal a crueza da vida e o "escuro" que os assola e subjuga!
A nossa paixão pelo Mestre exige de nós compromisso, ousadia, inquietação, rebeldia, anúncio e denúncia, fidelidade ao Mandamento Novo, comunhão com o Coração trespassado do Salvador.
A nossa pertença à Igreja pede acção, pede sonho, pede cumplicidade, pede coerência, pede fraternidade.
A nossa participação na Eucaristia, presidida ou participada, implica verdade e testemunho, implica serviço e gratuidade, implica transparência e disponibilidade, implica opção pelos mais pobres e disposição para o Lava-pés.
Simplesmente porque Deus não aceitará jamais as nossas festas e as nossas assembleias, porque Deus não suportará nunca os nossos cânticos e os nossos louvores, "glórias", "incensos" e "credos", se a nossa vida, o nosso culto, a nossa fé, não se transformar, aqui e agora, num rio transbordante de equidade e de de justiça, numa "onda" imensa de caridade e de fraternidade.
Oblações, holocaustos, rituais, celebrações, sem alma nem coração, sem ternura ou misericórdia, sem despojamento e humildade, não chegam ao coração de Deus!
Somos livres para escolher a "vida" ou a "morte"; livres para escolher a verdadeira liberdade ou a escravidão do espiritualismo castrador e viciante; livres para optar pela paz que Deus é ou a liturgia obsoleta e o farisaísmo consolador de quem balbucia orações mas esquece Deus feito Carne e feito História em cada Homem nosso irmão!
O "Ano da Fé" que a Igreja breve iniciará nos ajude a entender verdades esquecidas, gestos adormecidos, testemunhos inebriados!

18 comentários:

  1. Prior apareceu agora mesmo este seu novo texto. Que desassombro, que interpelação. Como ficar indiferente e adormecido quando sabemos todos que esse é o único caminho para dar força e sentido à nossa fé. Deus nos ajude a ser diferentes.

    ResponderEliminar
  2. Na verdade precisamos mesmo de conversão. De acreditar naquilo que celebramos e de ser fieis aos gestos que fazemos todos os Domingos. Como a Igreja seria diferente se aqueles que vamos à Missa a levássemos para o dia a dia, para as nossas conversas, os nossos olhares, os nossos desejos. Obrigado pelas suas palavras e pelos seus permanentes desafios.

    ResponderEliminar
  3. "Livres para escolher..."é verdade somos livres e nem sempre escolhemos o melhor,e isso quando nós tomamos consciência disso,deixa-nos bastante tristes,cabe-nos a nós mostrar o que vai dentro de nosso coração,deixar transparente todo o amor,a semente que ELE nos encheu o coração, pelas mãos de alguém,no meu caso o Padre António.
    Aceitar o dia que nasce com amor e não pensar em nós,pensar sim que tudo o que vem em nosso caminho, terá que ser feito com o coração ,um sorriso,uma palavra,um gesto,uma caridade,tudo sair espontâneo,porque Jesus habita em nós,se ELE habita em nós, não poderá ser de outro modo,eu não sinto a minha vida de forma.Amar,amar,dar de mim,não sei se ás vezes sou entendida,mas não me importo, eu tenho que continuar a fazê-lo.Difícil de explicar mas é o que sinto.

    ResponderEliminar
  4. Muito obrigada por insistir em nos re-centrar no essencial.
    O nosso pecado é SEMPRE o esquecimento de Deus e colocarmos a nossa conveniência no Seu lugar;
    Que bom vir aí um Ano da Fé em que toda a Igreja se une no principal pedido que o homem pode fazer a Deus: Senhor, aumentai a minha Fé!
    Porque se a nossa Fé fôr do tamanho de um grão de mostarda, não há margem para nos limitarmos a "incensos, cânticos e louvores" porque a Fé dá-nos consciência de que "ai de mim"... se não amar, se não evangelizar, se não trabalhar para o Reino de Deus, dá-nos consciência de pecado!
    Muitas saudades e beijinhos

    ResponderEliminar
  5. Nós somos livres de escolher,mas aplicamos a nossa liberdade muito mal,começamos por fazer exatamente o que faziam antigamente.
    Começando pelos meros rituais e meras aparências,se perguntarmos diretamente a alguém se ama Jesus? olham-nos com ar incrédulo, sem saber que resposta dar,respondem eu sou católico não praticante,e eu pergunto a mim própria, não seria melhor responderem prontamente eu amo Jesus,ELE é a minha vida,porque com Jesus no coração, ELE nos dá a necessidade de O procurar na Sua casa,a Igreja,de saciar a sede que nos invade a alma e o coração.
    Por esse motivo hoje ao ver uma Igreja repleta de jovens bem mais conscientes da suas vidas ,das suas opções,de quem é Jesus, do que antigamente me sinto feliz me vem as lágrimas aos olhos e louvo por toda esta energia renovada para amar Jesus,Bem Haja Padre António por ser esta «alavanca»que impulsiona tantos jovens onde quer que esteja,sempre rezarei para que essa força O acompanhe sempre.
    Aos menos jovens, cabe-nos a nós menos jovens também darmos o exemplo e os levarmos até ao Senhor.

    ResponderEliminar
  6. "Não podemos firmar os olhos nas dificuldades e nos inúmeros problemas como se estivéssemos perdidos, sem ninguém para nos ajudar e amparar. Precisamos ficar atentos aos pequenos gestos de amor que o bom Deus realiza em nossa vida diariamente e aclamá-Lo com ação de graças. Problemas sempre existirão, como o próprio Cristo afirmou, mas, se estivermos com os olhos no Senhor, veremos Seu socorro e amparo, independentemente da situação e dos resultados

    ResponderEliminar
  7. Pois é!Ele deve preferir às "mãos postas",
    as "mãos dadas"!
    O texto é um belo desafio, assim cada um de nós seja capaz de responder. Tenhamos esperança: algo havemos de conseguir fazer.
    LF

    ResponderEliminar
  8. Há já muito que não escrevia nenhum comentário. Não que não acompanhe com regularidade estes escritos. Mas porque vejo que sempre há leitores que o vão fazendo. Todavia, este texto belíssimo não consegue travar este ímpeto de agradecimento pela convicção que ele espelha, pela paixão que ele revela e pelo entusiasmo a que nos desafia. Muito obrigado pela fé que nos contagia e pela força que nos dá. Ajuda-nos a acreditar que a igreja não está condenada à banalidade e ao facilitismo mas à grande tarefa do amor.

    ResponderEliminar
  9. Soube-me bem regressar à igreja. Sinto-me bem diante e no meio de pessoas que nãos e acomodam e de um padre que não tem medo de abanar as águas estagnadas onde a igreja demasiadas vezes se move. é sempre refrescante beber destes textos que nos incentivam a ir mais longe e mais alto como tantas vezes diz o P. António. Havemos de ser uma igreja mesmo de Jesus e do seu Evangelho.

    ResponderEliminar
  10. A letra de uma musica

    Sinto que não dá para esperar
    Busco uma forma de ajudar
    Vendo eu não consigo me acomodar
    Quero ser instrumento p`ra Deus usar
    Poeira p`ra em todo o canto poder chegar
    E a boa semente semear.
    É linda...e é assim que devemos sentir em nosso coração,total entrega

    ResponderEliminar
  11. ...”Simplesmente porque Deus não aceitará jamais as nossas festas e as nossas assembleias, porque Deus não suportará nunca os nossos cânticos e os nossos louvores, "glórias", "incensos" e "credos", se a nossa vida, o nosso culto, a nossa fé, não se transformar, aqui e agora, num rio transbordante de equidade e de justiça, numa "onda" imensa de caridade e de fraternidade.”...
    Esta frase deveria ser o ´lavar´dos nossos corações, para uma ´limpeza´ que floresça, que nos dê e nos ensine o caminho para o Céu. Aprendemos com tudo. Todos os dias a nossa vida é uma constante aprendizagem (ou deveria ser). Aprendemos muito, ouvimos muito e por vezes esquecemo-nos que o mais importante para nos limpar a alma, é a Palavra de Jesus. Ouví-la, entendê-la, aceitá-la e usá-la nos nossos dias, que poderão deixar de ser tão ´chuvosos´ se conseguirmos seguir os caminhos do Evangelho.
    Como diz o Pe. António nesta lindíssima frase, nós temos que seguir um caminho de caridade e fraternidade, para que haja sentido na nossa ´peregrinação´ nesta terra.
    Ontem, hoje e sempre, temos um caminho a percorrer: o caminho do amor, do verdadeiro amor, da verdadeireiro partilha, do verdadeiro perdão.
    Que assim seja...para mim, para ele...para ela...para todos.
    R.A.

    ResponderEliminar
  12. Qual a minha escolha?... Ser+a o meu exame de consciência ao deitar.
    Obrigada, Pe. António, por mais esta interpelação.

    ResponderEliminar
  13. Padre António
    21 anos
    "Tanto tempo e tão pouco"
    E verdade hoje é mais um ano,e serão muitos mais com amor,porque no Seu coração só à um pensamento.
    "Eu venho, Senhor para fazer a Vossa vontade
    É só olhar o fundo do blogue é comovente,é maravilhoso...JOVENS...o futuro da Igreja,que com muito carinho seguem o seu Pastor Padre António,porque Ele os conduz com amor,com toda a Sua vida e entrega, até à exaustão ao caminho de Jesus Cristo.

    ResponderEliminar
  14. PARABÉNS, PADRE ANTÓNIO

    Por causa de um "sim" está junto de nós, e é com muita alegria que O queremos em nossas vidas, até Deus assim o determinar,quando Deus cruza os caminhos, é porque à algo a comungar, o amor,o carinho...JESUS CRISTO.
    Felicidades,beijinho,um dia muito Feliz
    Rezo por SI,sempre

    ResponderEliminar
  15. Vou transcrever duas frases do nosso Saudoso João Paulo II que gosto muito e tem muito que meditar.
    "A palavra de Deus é digna de todos os vossos esforços,Abraçá-la em toda a sua pureza e integridade e difundi-la com o exemplo e a pregação,é uma grande missão
    Esta é a vossa missão hoje,amanhã e pelo resto de vossas vidas"

    "A pessoa humana tem uma necessidade que ainda é mais profunda,uma fome que é maior que aquilo que o pão pode saciar,é a fome que possui o coração humano da imensidade de Deus"

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Vou escrever mais uma frase que nunca são bastantes de quem nos deu, e deixou tanto para encontrar JESUS na nossa caminhada,para enchermos o nosso coração de amor serenidade,Paz,uma serenidade de Paz,mas não de comodismo.
      O nosso querido,saudoso João Paulo II,que me continua a emocionar,fazer correr as lágrimas e a transmitir muita Paz.

      " A Cruz,na qual se morre para viver;para viver em Deus e com Deus,para viver na liberdade e no amor,para viver eternamente".
      São Palavras que nos fazem meditar,interiorizar e nos sentirmos mais de Cristo,sempre mais com nossa vida.

      Eliminar
  16. O que vou escrever, podia escrever noutro partilhar,porque está de acordo com todos,porque em todos o que existe é muito amor, entrega de uma vida que nem sempre é reconhecida ,e na verdade ás vezes é preciso ficar sem as pessoas para lhes dar valor.
    "Vitórias,derrotas" por exemplo:na verdade não à derrota quando um coração é de Deus,e ao longo do tempo Deus se encarrega de mostrar que a »derrota» se transformou numa grande VITÓRIA.
    Hoje e várias vezes sou interpelada porquê que a Paróquia do Estoril tem as missas vazias de fiéis,eu respondo, falta Amor,pessoas que gostavam de abraços e beijinhos e que agora lhes está a faltar o essencial Jesus Cristo.
    Obrigada Padre António por ser como é,amigo, mas Amigo mesmo,pensando a sério em quem precisa,para Jesus nada é velado.
    Bem-haja um beijinho amigo

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Onde estão as missas que era sempre necessário abrir as portas da Igreja para que as pessoas pudessem assistir à Santa missa,dava aperto,alegria,no coração passar em qualquer das missas na Marginal e ver tanta gente.Onde estão? Um ano passou...sentimo-nos tristes,muito tristes...

      Eliminar

Web Analytics