terça-feira, 13 de dezembro de 2011

"Mentira!"

"Tenho saudades de te ver
Vontade de te abraçar
Sozinho tocando uma guitarra

Junto ao mar
Recordo-me de ti
E imagino porquê
A tua cara a flutuar
Porque é que a vida nos fascina?
Tantas vezes nos domina?
Acreditar que no amor
Não se sente a dor
Mas é mentira!
Mentira! Mentira! Mentiraaaa!"

Não me custa imaginar, não me é difícil «escutar» a Deus cantar-me, cantar-nos, a letra desta canção.
Bem pelo contrário, é assim mesmo que O penso, que O sinto, que O procuro...
Um Deus que revela, sem medos, os sentimentos, a ternura, o amor, que nos tem de forma indizível, inimitável, única.
Um Deus que Se faz Homem, precisamente, para poder experimentar e para que possamos nós próprios experienciar a beleza e a profundidade do Amor que Deus é. Um Deus que me procura, que sonha abraçar-me em cada instante, que Se deixa fascinar pelas capacidades destes nossos corações...
Um Deus que, por causa do amor, que oferece, que partilha, que é, experimenta a rejeição, a solidão e a dor! Porque no amor profundo, até ao limite, até ao fim, comporta essa dimensão incompreensível à razão.
Na verdade, amar faz doer. Mas uma dor que jamais poderá ser sinónimo de masoquismo; ao contrário, ela tem de ser purificação, sublimação e sublinhar do amor que dizemos sentir, ter ou ser!
Apregoa-se que «este ano o Natal é no Continente»! Mentira!
Grita-se que Natal é no «Intermarché»! Mentira!
É de aceitação comum que Natal são almoços e jantares, presentes e luzes, ornamentações e adornos! Mentira!
Natal é Jesus, Natal é o amor feito Pessoa, feito, Carne, feito Palavra, feito Vida Incarnada.
Natal é simplicidade e despojamento, é ternura e é afecto, é abraço e é saudade, é brilho nos olhos e no coração...porque nos sabemos amados e capazes de amar. Até doer!
E quando nos intentam fazer acreditar que no amr não se sente a dor, teremos que responder: Mentira! Mentira!
Quando se pretende falar, celebrar, viver, Natal, sem Jesus, sem coração, sem verdade, sem transparência, sem afecto, sem abraço, apenas podemos responder: Mentira!
Quando se ousa anunciar Natal, anunciar Jesus, com corações carregados de inveja, de egoísmo, de maledicência, facilitismos ou hipocrisias, teremos de afirmar categoricamente: Mentira!
Gosto, prefiro, mesmo que custe, mesmo que doa, olhar o Presépio despido de tudo e carregado de amor. Prefiro olhar e sentir o Natal com uma Criança deitada numa manjedoura, ainda que isso traga desconforto ou impopularidade. Prefiro olhar e sentir Jesus como amor que Se entrega até ao limite, até à Cruz, do que viver «embrulhado» em pseudo-verdades piedosas que sejam, espiritualistas que se apresentem...
Prefiro deixar abraçar-me por Jesus, rejeitado, cuspido, sangrado, crucificado, morto e ressuscitado; prefiro ousar abraçar Jesus, vivo e presente no homem de cada tempo, a um «deus menor» que me iluda e me encha de prazeres e grandiosidades, de honrarias e poderes... sempre efémeros e passageiros!
Sim, prefiro escutar um Deus que me sussurra:
"Tenho saudades de te ver
Vontade de te abraçar
Sozinho tocando uma guitarra
Junto ao mar
Recordo-me de ti..."!
E esse abraço, e essa saudade, não é Mentira! É a mais pura e libertadora das verdades!

6 comentários:

  1. "Mentira"
    Não existem palavras para uma meditação tão sentida,saída de um coração que sofre, por constatar o que existe no mundo e no meio de nós,que nos faz sofrer e querer fechar os olhos e encontrar-se nos braços de Jesus,fechando os olhos sem nada,mas com muito amor e muita vontade de fazer, com que os outros o compreendam, que amar Jesus, não é o que o mundo nos apresenta e que nós seguimos.
    "Tenho saudades de te ver"

    "Vontade de te abraçar
    Sozinho tocando uma guitarra
    Junto ao MAR
    Recordo-me de ti...!
    E esse abraço,e essa saudade, não é mentira!

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  2. “É mentira !”, não, é verdade, é verdade que acredito, que quando fecho os olhos e mergulho na oração, sinto que estou mais perto de Deus.
    Infelizmente, ano após ano, existe o materialismo. Mas existe, porque somos humanos. Se eu dissesse que não ligo aos presentes, não sou nada consumista, não ligo aos enfeites em minha casa, a passar a noite de 24 junto da minha família...estaria a mentir.
    Mas gostava de partilhar algo que se passou o ano passado e que eu achei de uma riqueza muito grande.
    No dia 24, véspera de Natal, 6ª feira, eram...3 da tarde, olhámos uns para os outros e perguntámos: “O que é que vamos fazer ?” A família só se juntava às 8 e meia. E até lá ?
    Alguém em minha casa, sugeriu que fossemos ao cinema. Eu achei que havia algo muito importante que tinha de ser feito. Não por obrigação, mas porque eu (pessoalmente) queria muito. Um amigo da família, muito amigo mesmo (era como um avô para as minhas filhas), falecera em Setembro, no fatídico dia 11 de Setembro: com um cancro, cego, paralítico e num sofrimento que eu própria pedi a Deus que tivesse caridade dele (embora soubesse que nos ia custar muito a todos).
    Ele vivia sózinho com a irmã que tinha mais 15 anos (ele faleceu com 79). Nesse Natal, eu queria muito passar a tarde com a Júlia. Ela tinha 85 anos, vivia sózinha e ia adorar ver-nos a todos.
    Resposta aqui em casa: “Ai que horror, que graça tem irmos a casa da Júlia ? Das-nos cada divertimento !” Mas, por ironia do destino, a minha filha levantou-se e disse: “A mãe tem razão. A tia Júlia vai adorar ver-nos !” E os outros engoliram em seco. Lá fomos. Comprámos Bolo Rei, umas fatias douradas...
    Conclusão: a Júlia quando nos viu...agarrou-se a nós a chorar. Ela que adora as minhas filhas, e que é raro ver os outros membros da nossa família. Comoveu-me e acabei agarrada a ela.
    Quando nos viémos embora, passado cerca de hora e meia, senti a alegria que brilhava naqueles olhos cansados pela vida, de quem não teve filhos e que viveu uma vida inteira para cuidar dos doentes.
    Mas, resultado: apanhámos um transito horrível (pois estávamos em Lisboa) e chegámos atrasados ao jantar.
    Aquele foi o meu Natal. Não posso descrever por palavras o quanto foi bom estar com a Júlia e sentir a alegria estampada no rosto. Ela que ia passar o resto da vida dela sózinha. Depois o jantar em casa da família...foi mais um, onde não havia calor de Natal.
    Como as coisas simples são as mais preciosas. É é nestas alturas, quando podemos ajudar quem de nós precisa, que a vida nos fascina, que a vida me fascina. Não sei o que vai aconteceu este ano no dia 24.
    Obrigada Cristo. Obrigada por seres o meu ídolo e por eu sentir que nada abala a minha fé.
    Obrigada Padre António, porque...as suas homilias, a sua força, a sua fé, as suas noites de oração, ajudam-me, ajudam-nos a sermos pessoas cada vez maia sólidas de coração. Tenho a certeza que...não é por acaso que saiu do Estoril, nem foi por acaso que entrou em Carcavelos.
    Uma pergunta: Já viu os corações que voltaram, que se aproximaram de Deus, que se aproximaram da partilha do Pão ? Que Deus continue a iluminar o seu caminho, para que nós consigamos ser cada vez melhores, mais justos. Consigamos ser cristãos com Cruz e com Calvário.
    E já agora....Parabéns pelo novo ´site´da paróquia ! Está mais ao seu jeito, ao nosso jeito.

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  3. Em primeiro lugar: Parabéns ! Parabéns pelo lindíssimo texto que escreveu, com verdades que não são mentira.
    Há verdades que nos doem: há egoísmo, maledicência, hipocrisias, injustiças (como diz). Há e muito. E principalmente onde não deveria haver: na igreja. Que testemunho damos nós aos que não acreditam ? Que testemunho damos nós áqueles que dizem: “Vou hoje à missa experimentar, se não gostar...” Que testemunho estamos nós a dar quando alguém olha nos nossos olhos e diz: “Eu sou ateu, mas faço mais pelos outros do que muitos que estão aí dentro, que só falam e dizem mal das pessoas.”
    Gostaria de gritar bem alto e perguntar: porque razão as pessoas falam tanto quando estamos numa escaristia ? Quando começa a homilia, é como se fosse um intervalo ? E digo, até os catequistas...porquê ? Já para não falar no deslizar das contas do rosário e, que ao mesmo tempo estão a rezar com o sacerdote.
    Onde estamos nós ? Estamos na missa ou no recreio ? Parecemos crianças. E depois vimos cá p´ra fora falar, falar, falar, depois de comungar, depois de bater com a mão no peito. Isto tudo é o quê ? Hipocrisia ? É capaz de ser uma hipocrisia muito grande.
    Mas depois tenho que me virar para os sacerdotes. Quantos sacerdotes nos levam a sentir bem numa celebração ? Quantos ? Eu não estou a falar num Padre António (como é óbvio). Padres Antónios não há muitos ! Deve haver mais uns quantos que nos prendam. Mas...quantas crianças, quantos jovens levam com a ´pastilha´ da missa. Jovens com 12, 15, 17 anos, que se torcem todos, fartos de estar ali.
    E depois vem a confissão, que até parece bem, numa altura destas, do Advento: temos de preparar o nosso coração para o Natal. Quantos padres existem que não nos fazem sentir nada, que nos afastam...quantos ?
    Nós somos uns felizardos, somos uns abençoados, com a vinda do Padre António.
    E há padres que nos fazem sentir nas nuvens, que enriquecem a nossa alma. Infelizmente..muito poucos.
    E depois podemos afirmar, como disse o padre António: “Quando se pretende falar, celebrar, viver, Natal, sem Jesus, sem coração, sem verdade, sem transparência, sem afecto, sem abraço, apenas podemos responder: Mentira!”

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  4. Tenho saudades do Natal em que nada tinha,mas tinha tudo,os presentes eram uns tachos de alumínio,e só para as crianças nada de exageros. Não era o pai Natal que os trazia, era sim o menino Jesus,que descia a minha chaminé e ia pôr em cima do fogão,nem no pai Natal se falava...eu só perguntava à minha mãe, o menino Jesus gosta de nós, porquê que não o podemos ver? Hoje onde fica o Menino Jesus no nosso Natal? Será que temos a mesma caridade de antigamente, onde todos se auxiliavam,portas abertas e hoje ninguém se conhece.
    Quando penso nisto tudo fico muito triste por a nossa evolução ser tão primária e cheia de egoísmo.
    Esta saudade, não é mentira é a realidade.

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  5. Leio (e releio...), medito, rezo...
    Obrigada, Pe. António

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  6. Com um enorme abraço e os votos de um Santo Natal ao sempre amigo Padre António

    NATAL DE QUEM?

    Mulheres atarefadas

    Tratam do bacalhau,

    Do peru, das rabanadas.

    -- Não esqueças o colorau,

    O azeite e o bolo-rei!

    - Está bem, eu sei!

    - E as garrafas de vinho?

    - Já vão a caminho!

    - Oh mãe, estou pr'a ver

    Que prendas vou ter.

    Que prendas terei?

    - Não sei, não sei...

    Num qualquer lado,

    Esquecido, abandonado,

    O Deus-Menino

    Murmura baixinho:

    - Então e Eu,

    Toda a gente Me esqueceu?

    Senta-se a família

    À volta da mesa.

    Não há sinal da cruz,

    Nem oração ou reza.

    Tilintam copos e talheres.

    Crianças, homens e mulheres

    Em eufórico ambiente.

    Lá fora tão frio,

    Cá dentro tão quente!

    Algures esquecido,

    Ouve-se Jesus dorido:

    - Então e Eu,

    Toda a gente Me esqueceu?

    Rasgam-se embrulhos,

    Admiram-se as prendas,

    Aumentam os barulhos

    Com mais oferendas.

    Amontoam-se sacos e papeis

    Sem regras nem leis.

    E Cristo Menino

    A fazer beicinho:

    - Então e Eu,

    Toda a gente Me esqueceu?

    O sono está a chegar.

    Tantos restos por mesa e chão!

    Cada um vai transportar

    Bem-estar no coração.

    A noite vai terminar

    E o Menino, quase a chorar:

    - Então e Eu,

    Toda a gente Me esqueceu?

    Foi a festa do Meu Natal

    E, do princípio ao fim,

    Quem se lembrou de Mim?

    Não tive tecto nem afecto!

    Em tudo, tudo, eu medito

    E pergunto no fechar da luz:

    - Foi este o Natal de Jesus?!!!*

    (João Coelho dos Santos

    in Lágrima do Mar - 1996)

    O meu mais belo poema de Natal

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