despojada de poder
que havia abandonado
os formalismos do passado
e os gestos inúteis de outrora.
Sonhei uma Igreja
que tudo sabia compreender
que a todos sabia amar.
Sonhei uma Igreja
despida de autoritarismo
esquecida de gestos supérfluos
inclusive vénias reverenciais
Sonhei uma Igreja
menos maternalista
e mais capaz
de restituir à mulher
o seu verdadeiro lugar.
Sonhei uma Igreja
que denunciava a injustiça
quando era preciso denunciar.
Sonhei uma Igreja
que nada sabia além de esperar
como alguém que espera no caminho
como alguém que espera no caminho
que alguém lhe diga como é Jesus Cristo.
Sonhei uma Igreja
que não mais se escondia
por detrás de aparências piedosas
mas que oferecia com toda a clareza a sua verdade
Sonhei
que andava à procura de mim próprio
e à descoberta de Deus
numa Igreja feita verdadeiramente de mulheres e homens”.
Este é um sonho e um projecto que me tem acompanhado desde os meus tempos de Seminário; alias, foram estas palavras as utilizadas no convite para a minha Ordenação Sacerdotal; palavras que já foram publicadas algumas vezes nas Comunidades por onde já passei...
Neste dia em que deixei de ser Pároco do Estoril, lembrei-me delas de novo; simplesmente porque penso e repenso a missão em que fui um dia investido, a tarefa que a própria Igreja me confiou ao conferir-me o Sacramento da Ordem, a vida que aceitei, em plena e liberdade, naquele já longínquo dia 7 de Julho de 1991.
Ser Padre, hoje, nesta nossa sociedade e Igreja concretas, exigem, assim o sinto e creio, é sinónimo de um «combate» interior e exterior que consiga, verdadeiramente, concretizar esse mesmo sonho e projecto!
Palavras, sermões, homilias, discursos, posturas, comportamentos, decisões, que não façam acontecer Evangelho, não revelem a Igreja nascida da Cruz de Cristo, que deformem e adulterem a radicalidade do Reino trazido por Cristo, jamais atrairão os corações para Deus!
Importa, sem medos nem vergonhas, sem falsas diplomacias e ridículas palavras, purificarmos a vida própria de cada um de nós para que brilhe em nós mesmos a luz do Evangelho. É tempo, definitivamente, da frontalidade, da verdade, da transparência, da humildade, do serviço, na Igreja, nos cristãos!
O vedetismo que ainda nos devora, a necessidade de pedestais, a sede de protagonismos, a ansia de aplausos e «améns», o apego ao efémero e passageiro, serão sempre negação do Evangelho e renovada traição do Mestre.
Urge sonhar!
Urge agir!
Urge mudar de direcção, de rumo, se queremos estar à altura das responsabilidades do nosso ser cristão! Urge uma postura outra, se queremos que a Igreja seja casa de acolhimento, espaço de e porto de abrigo a tantos e tantos que a deixaram, a ignoram, a perseguem!
E não é com servilismos doentios e espiritualidades doentias e balofas que o conseguiremos.
Assim Deus me ajude a sonhar a Sua Igreja e a edificá-la, nem que para tal seja preciso o sangue das veias, o sangue da alma.
A coragem e a ousadia sempre foram apanágio e atributos do Pe. António. Como se comprova, de novo, pela «profecia» deste texto. Quantos corações não pensarão e desejarão esta Igreja sonhada?! E, simultaneamente, quanto medo e instalação, em decidir-se à edificação deste mesmo projecto?! Creio que só assim vale a pena ser Igreja e ser da Igreja. Sem subterfúgios nem ilusões que nos façam permanecer numa utopia irrealizável e numa eclesialidade sem consequências se não mesmo a diplomacia como diz e a espiritualidade doentia?!
ResponderEliminarOxalá, sejamos capazes de ser pedras vivas na construção deste Reino que se apresenta ao mundo com a coragem e a valentia própria de quem sabe e crê que vale mas obedecer a Deus que aos homens.
Bem haja pela suas palavras provocadoras e carregadas de desafio...
Lembro-me bem deste "Sonhei uma Igreja", publicado num dos boletins da paróquia...
ResponderEliminarUma Igreja que o Pe. António quis - e tantos A quiseram também - para o Estoril. Houve quem não entendesse, quem se acomodasse, quem lutasse contra. Mas essa Igreja sonhada cresceu... como cresceu! Basta olhar para a obra deixada, para o rejuvenescimento da paróquia, para a mudança de comportamentos... porque o Estoril teve um Pastor que vive verdadeiramente o Evangelho! Um Pastor que, de facto, dá vida pelas suas ovelhas!
Agora, em Carcavelos, não vai ser diferente.
Conte sempre com a minha oração e o meu coração.
Beijinho amigo :)
Enquanto correr um pingo de sangue, em Suas veias, tenho a certeza que o Pe. António irá sempre, não só sonhar, irá lutar por uma Igreja melhor,bem ao modo de Jesus, de amor ,Fraternidade,união e Paz.
ResponderEliminarNão importa o lugar, porque o que importa é que o Seu caminho é de DEUS.
Que feliz me sinto por um dia, os nossos caminhos se terem cruzado e me desinstalar.
Nunca desista de ser como é verdadeiro, frontal,só assim se encontra o caminho de Deus e os corações que Dele necessitam.
Obrigado por nos relembrar algo de fundamental: que a Igreja e nós, cristãos, havemos de escolher antes a Deus que aos homens!
ResponderEliminarHoje pela primeira vez, passei em frente à Igreja de Santo António,desde que se foi embora Pe. António, invadiu-me uma tristeza profunda,pelo meu pensamento passou tanta coisa...nada vai ser o mesmo...
ResponderEliminar"Sonhei uma Igreja
despojada de poder
que havia abandonado
os formalismos do passado
e os gestos inúteis de outrora.
Sonhei uma Igreja
que tudo sabia compreender
ea todos sabia amar"
Se eu governasse o mundo, todos os dias seriam como o primeiro dia de Primavera. Todos os corações conheceriam a alegria de cantar. E cantaríamos a beleza e o gozo que é cada amanhecer.
ResponderEliminarSe eu governasse o mundo, todos os homens seriam livres como pássaros, cada voz seria uma voz única, a ser ouvida. Sem se perder no meio da multidão. Se eu governasse o mundo, o mais pequenino, seria o primeiro a não ser asfixiado pela amálgama daqueles que têm o poder.
O mundo tem tudo para ser esse verdadeiro sonho de que fala, bastava que cada um deixasse de olhar somente para si. Bastava que pudéssemos falar abertamente de sentimentos e do que vai coração... Sem vergonha, sem medo. Se fossemos porto seguro uns dos outros, não haveria tristeza. A carga seria bem mais leve...
Cada um encontraria o seu lugar e faria deste mundo, um mundo melhor.
.."Importa, sem medos nem vergonhas, sem falsas diplomacias e ridículas palavras, purificarmos a vida própria de cada um de nós para que brilhe em nós mesmos a luz do Evangelho. É tempo, definitivamente, da frontalidade, da verdade, da transparência, da humildade, do serviço, na Igreja, nos cristãos!"
ResponderEliminarÈ tempo também de Misericordia!de ter o mesmo olhar que o Senhor teve quando Pedro o negou( tal como ainda hoje todos nós o fazemos )é tempo de perdoar e de dar verdadeiro testemunho do "AMOR"