domingo, 11 de setembro de 2011

"Igreja: de Deus ou dos homens?!"

“Sonhei uma Igreja
despojada de poder
que havia abandonado
     os formalismos do passado
e os gestos inúteis de outrora.


Sonhei uma Igreja
                                                            que tudo sabia compreender
                                                      que a todos sabia amar.

                                                        Sonhei uma Igreja
                                                     despida de autoritarismo
                                                    esquecida de gestos supérfluos
                                                       inclusive vénias reverenciais


Sonhei uma Igreja
menos maternalista
e mais capaz
de restituir à mulher
o seu verdadeiro lugar.

Sonhei uma Igreja
que denunciava a injustiça
quando era preciso denunciar.

Sonhei uma Igreja
que nada sabia além de esperar
como alguém que espera no caminho
que alguém lhe diga como é Jesus Cristo.

Sonhei uma Igreja
que não mais se escondia
por detrás de aparências piedosas
mas que oferecia com toda a clareza a sua verdade

Sonhei
que andava à procura de mim próprio
e à descoberta de Deus
numa Igreja feita verdadeiramente de mulheres e homens”.

Este é um sonho e um projecto que me tem acompanhado desde os meus tempos de Seminário; alias, foram estas palavras as utilizadas no convite para a minha Ordenação Sacerdotal; palavras que já foram publicadas algumas vezes nas Comunidades por onde já passei...
Neste dia em que deixei de ser Pároco do Estoril, lembrei-me delas de novo; simplesmente porque penso e repenso a missão em que fui um dia investido, a tarefa que a própria Igreja me confiou ao conferir-me o Sacramento da Ordem, a vida que aceitei, em plena e liberdade, naquele já longínquo dia 7 de Julho de 1991.
Ser Padre, hoje, nesta nossa sociedade e Igreja concretas, exigem, assim o sinto e creio, é sinónimo de um «combate» interior e exterior que consiga, verdadeiramente, concretizar esse mesmo sonho e projecto!
Palavras, sermões, homilias, discursos, posturas, comportamentos, decisões, que não façam acontecer Evangelho, não revelem a Igreja nascida da Cruz de Cristo, que deformem e adulterem a radicalidade do Reino trazido por Cristo, jamais atrairão os corações para Deus!
Importa, sem medos nem vergonhas, sem falsas diplomacias e ridículas palavras, purificarmos a vida própria de cada um de nós para que brilhe em nós mesmos a luz do Evangelho. É tempo, definitivamente, da frontalidade, da verdade, da transparência, da humildade, do serviço, na Igreja, nos cristãos!
O vedetismo que ainda nos devora, a necessidade de pedestais, a sede de protagonismos, a ansia de aplausos e «améns», o apego ao efémero e passageiro, serão sempre negação do Evangelho e renovada traição do Mestre.
Urge sonhar!
Urge agir!
Urge mudar de direcção, de rumo, se queremos estar à altura das responsabilidades do nosso ser cristão! Urge uma postura outra, se queremos que a Igreja seja casa de acolhimento, espaço de e porto de abrigo a tantos e tantos que a deixaram, a ignoram, a perseguem!
E não é com servilismos doentios e espiritualidades doentias e balofas que o conseguiremos.
Assim Deus me ajude a sonhar a Sua Igreja e a edificá-la, nem que para tal seja preciso o sangue das veias, o sangue da alma.

7 comentários:

  1. Paroquiano de Sto, António do Estoril12 de setembro de 2011 às 09:10

    A coragem e a ousadia sempre foram apanágio e atributos do Pe. António. Como se comprova, de novo, pela «profecia» deste texto. Quantos corações não pensarão e desejarão esta Igreja sonhada?! E, simultaneamente, quanto medo e instalação, em decidir-se à edificação deste mesmo projecto?! Creio que só assim vale a pena ser Igreja e ser da Igreja. Sem subterfúgios nem ilusões que nos façam permanecer numa utopia irrealizável e numa eclesialidade sem consequências se não mesmo a diplomacia como diz e a espiritualidade doentia?!
    Oxalá, sejamos capazes de ser pedras vivas na construção deste Reino que se apresenta ao mundo com a coragem e a valentia própria de quem sabe e crê que vale mas obedecer a Deus que aos homens.
    Bem haja pela suas palavras provocadoras e carregadas de desafio...

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  2. Lembro-me bem deste "Sonhei uma Igreja", publicado num dos boletins da paróquia...
    Uma Igreja que o Pe. António quis - e tantos A quiseram também - para o Estoril. Houve quem não entendesse, quem se acomodasse, quem lutasse contra. Mas essa Igreja sonhada cresceu... como cresceu! Basta olhar para a obra deixada, para o rejuvenescimento da paróquia, para a mudança de comportamentos... porque o Estoril teve um Pastor que vive verdadeiramente o Evangelho! Um Pastor que, de facto, dá vida pelas suas ovelhas!
    Agora, em Carcavelos, não vai ser diferente.
    Conte sempre com a minha oração e o meu coração.
    Beijinho amigo :)

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  3. Enquanto correr um pingo de sangue, em Suas veias, tenho a certeza que o Pe. António irá sempre, não só sonhar, irá lutar por uma Igreja melhor,bem ao modo de Jesus, de amor ,Fraternidade,união e Paz.
    Não importa o lugar, porque o que importa é que o Seu caminho é de DEUS.
    Que feliz me sinto por um dia, os nossos caminhos se terem cruzado e me desinstalar.
    Nunca desista de ser como é verdadeiro, frontal,só assim se encontra o caminho de Deus e os corações que Dele necessitam.

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  4. Obrigado por nos relembrar algo de fundamental: que a Igreja e nós, cristãos, havemos de escolher antes a Deus que aos homens!

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  5. Hoje pela primeira vez, passei em frente à Igreja de Santo António,desde que se foi embora Pe. António, invadiu-me uma tristeza profunda,pelo meu pensamento passou tanta coisa...nada vai ser o mesmo...
    "Sonhei uma Igreja
    despojada de poder
    que havia abandonado
    os formalismos do passado
    e os gestos inúteis de outrora.

    Sonhei uma Igreja
    que tudo sabia compreender
    ea todos sabia amar"

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  6. Se eu governasse o mundo, todos os dias seriam como o primeiro dia de Primavera. Todos os corações conheceriam a alegria de cantar. E cantaríamos a beleza e o gozo que é cada amanhecer.
    Se eu governasse o mundo, todos os homens seriam livres como pássaros, cada voz seria uma voz única, a ser ouvida. Sem se perder no meio da multidão. Se eu governasse o mundo, o mais pequenino, seria o primeiro a não ser asfixiado pela amálgama daqueles que têm o poder.

    O mundo tem tudo para ser esse verdadeiro sonho de que fala, bastava que cada um deixasse de olhar somente para si. Bastava que pudéssemos falar abertamente de sentimentos e do que vai coração... Sem vergonha, sem medo. Se fossemos porto seguro uns dos outros, não haveria tristeza. A carga seria bem mais leve...
    Cada um encontraria o seu lugar e faria deste mundo, um mundo melhor.

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  7. .."Importa, sem medos nem vergonhas, sem falsas diplomacias e ridículas palavras, purificarmos a vida própria de cada um de nós para que brilhe em nós mesmos a luz do Evangelho. É tempo, definitivamente, da frontalidade, da verdade, da transparência, da humildade, do serviço, na Igreja, nos cristãos!"
    È tempo também de Misericordia!de ter o mesmo olhar que o Senhor teve quando Pedro o negou( tal como ainda hoje todos nós o fazemos )é tempo de perdoar e de dar verdadeiro testemunho do "AMOR"

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