sábado, 27 de agosto de 2011

"Gritos de verdade e de vida"

"Haverá luz
Sugada no escuro?
Será calor
O murmúrio do frio?
Terá amor
O avesso da vida?
Haverá sonhos
No fundo da dor?
Serão gritos
Os cais do silêncio?
Será coragem
A tremura do medo?
Haverá chuva
Que lave este sangue
E deixe que a terra acalme
Devagar

Esquece o medo
Sai do escuro
Abre comportas
Deixa gritar
Vai mais fundo
Persegue o mar
Persegue o mar"...


Palavras que despertam anestesias do coração; palavras que nos "atiram" para longe dos nossos "eus" idolatrados e escondidos, fingidos e camuflados; palavras que desafiam a ir permanentemente mais longe do que os medos que nos amarram, das mentiras que nos asfixiam e iludem, dos fingimentos que nos cegam e matam antes do tempo!!!
Sair do escuro, dos escuros em que nos deixámos cair, por teimosia, arrogância, endeusamento pessoais! Sair do escuro que não nos deixa ver a beleza do mar que haveríamos de perseguir como horizonte de paz e de serenidade quotidianas!
Deixar gritar a verdade que, com medos e vergonhas, abafamos e fingimos não conhecer, não deixando que "a terra acalme"!
Deixar gritar a humildade que nos escapa porque ensinados às grandezas e às aparências que levam a nadas e a vazios constantes e permanentes; deixar gritar a justiça da qual desviamos o olhar e a acção com medo de retaliações de "statuos" adquiridos, de posições sociais conquistadas, de aparências enganosas tornadas verdades definitivas!
Com efeito, diante da história do nosso mundo e da Igreja que somos, haverá luz, haverá calor, haverá esperança? Diante da realidade que nos envolve, seremos muitos, seremos os suficientes para ousarmos esse "grito" que pode transformar, de verdade, a história, a dos outros e a minha em particular?
Em tantos gritos abafados, em incontáveis gritos sufocados pela força das falsas tradições e das falsas modéstias, nos gritos perdidos e sem efeito porque agrilhoados pela nossa falta de confiança no outro, porque temos medo da partilha e da cumplicidade,  haverá ainda tempo e oportunidade para um novo "sol" e um novo "calor"?
Haverá sonhos que nos comandem?
Haverá capacidade de os partilhar e viver com o outro, com os demais, ou fechámo-nos em egoísmos atrozes que nos transformam em ilhas isoladas, que se encontram no "mar da vida" ocasionalmente e "quando dá jeito"?!
Que a chuva da nossa vontade lave este "sangue" que escorre nesta página da história do mundo, da nossa história; que esta chuva da nossa humildade e da nossa verdade, levada a sério, consiga em nós um coração novo, um coração puro, um coração de Deus e para Deus, no qual Ele Se orgulhe de verdade.
Teimosamente continuarei a "gritar"!
Quem se juntará?
Teimosamente continuarei a sonhar!
Quem ousará ser cúmplice?

8 comentários:

  1. Pe. António, penso que o que o meu coração sente neste momento,não dá para descrever,é muito difícil, quando realmente temos medo, da partilha e confiança no outro,nos retraímos, isolamos e muito mais.
    Nós vamos ao longo da vida nos amarrando a tanta coisa,umas de nossa vontade, outras nem tanto e quando damos o grito de saída, ninguém acredita...
    Quando sentimos, que só alguém nos escuta e compreende, todo o sentir do nosso coração, que é DEUS.
    Como me vão fazer falta todas estas palavras ditas pelos seus nomes...
    A vida é assim...mas tenho esperança que sempre continue connosco...
    Eu quero ter a força de me juntar a SI,sonhar,ser cúmplice.
    de um "Grito de verdade e de vida"

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  2. Quantas saudades iremos sentir destas palavras proféticas e destemidas! Quanta falta nos farão esta frontalidade e esta radicalidade. Quão mais pobres ficaremos todos nós e os nossos corações ao ficarmos privados desta postura sem medo de falar e de ser tão próprias do Pe. António. Venha quem vier, não trará esta firmeza e esta determinação. De facto, não são poucos os pastores que optam mais pela diplomacia do que pela exigência próprias do Evangelho que este prior nos ensinou às vezes com custos tão altos para ele próprio.
    Se conseguir, caro Pe. António, irei sonhar essa Igreja, irei construir essa Igreja, lutando com todas as forças para que nada seja destruído do que aqui tão sabiamente edificou.
    Desculpe não me identificar mas perceberá bem o porquê. Coragem e a certeza da minha oração por si.

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  3. Eu tenho esperança que suas Palavras ,não foram em vão para tanta gente ,que algo de diferente tenham retido em Seus corações.
    Eu própria me tenho testado neste período e uma coisa é muito certa,o Padre António, pôs-me Deus no coração e de lá não sai mais,mas vai ser difícil ou digo mesmo impossível superar a Sua ausência.Que fazer? não vou encontrara mais frontalidade...e tudo mais que nos trás Jesus ,à nossa vida.

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  4. Grandes palavras, grandes sentimentos. Grandes verdades. Que nem todos têm a coragem de afirmar!

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  5. Que vê/sente em mim, aquele que cruza o meu caminho?... Que testemunho dá a minha vida?...

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  6. Gritos de verdade e de esperança,que um dia o Sol brilhe e a Luz seja tão intensa, que ofusque corações que tanta ausência têm de Deus e os encha de amor ,um amor puro,bem ao modo de Jesus Cristo de dádiva,humildade.

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  7. Para quê tanta preocupação com banalidades,se só uma coisa importa, é ajudar nosso irmão que precisa,que importa se vem daqui,ou dali,como se chama, interessa é o interior o que podemos fazer por ele,para quê condenar e desejar sobrepor-se.Deus sabe e vê tudo e conhece os nossos corações.

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  8. O mar é maravilhoso com seu azul (foto) que nos faz sonhar ,com o Sol refletindo a Sua Luz ,nos inebria e nos faz meditar.

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