sábado, 2 de abril de 2011

"Cegueiras que corroem"

O tema da «Luz» é próprio desta Tempo Quaresmal; sê-lo-á ainda mais na experiência fecunda da Páscoa, verdadeira e definitiva Luz de Deus sobre as «sombras» do Homem...
Mas esse mesmo «tema da luz» é apetecível, apropriado, necessário e até urgente, diante das «trevas» que nos assolam, das «escuridões» que nos inebriam, das «cegueiras» que corroem o mais fundo e íntimo do coração!
A cura do cego de nascença deste IV Domingo da Quaresma que escutamos será sempre ocasião de profunda interrogação interior e pessoal sobre os «caminhos de luz» que trilhamos ou, ao invés, sobre as cegueiras de olhos abertos com que «viajamos» no mundo e na Igreja!
Na verdade, é muito simples deixarmo-nos convencer que «cegos» são os outros! Cegos são quem não nos valoriza nem reconhece; cegos são os que não pensam nem se comportam como nós; cegos são esses que não nos aplaudem, não nos «lambem os pés» ou o caminho que pisamos; cegos são todos esses que ainda não entenderam que para vingar neste mundo e nesta sociedade são precisos critérios e posturas, imagens e figuras que nos «elevem» e «dignifiquem»...
E, todavia, cegos andamos nós, quando buscamos ilusões, méritos, medalhas; cegos andamos quando não somos capazes de nos opôr ao triunfalimo reinante, ao facilitismo militante, à indiferença pecaminosa que grassa até no coração da Igreja; cegos somos nós sempre que valorizamos mais o «ter» que o «ser», de cada vez que nos importamos mais com a imagem que passamos aos outros do que a que, verdadeiramente, revelamos a Deus...
Cegueiras que corroem o nosso caminhar para a Páscoa, e que bem podem ter os «traços» da espiritualidade e da piedade dita cristã! Cegueiras que corroem corações sempre que estes se distraem e optam pelo espiritualismo, a pieguice beata, o devaneio espiritual, a alienação religiosa, quando o homem nosso irmão passa fome, não tem casa nem trabalho, não sabe o que é assistência médica condigna ou mesmo o mais básico: não sente a caridade cristã daqueles e naqueles que se alimentam da Palavra e do Corpo de Deus!
Será sempre bem mais fácil e cómodo balbuciar e papaguear uns «Pai-Nossos» e umas «Avé-Marias» que predispôr-se a servir, a dar a vida, a escutar quem precise, a dar a mão a um esquecido do mundo ou da Igreja! É muito mais «reconfortante» celebrar a Eucaristia, às vezes tão misticamente, do que perguntar e decidirmo-nos às múltiplas tarefas e trabalhos eclesiais que há para fazer!
Cegueiras que corroem!
Cegueiras que matam mesmo!
Cegueiras que só com a virtude da humildade poderemos reconhecer em nós para delas podermos ser curados pelo Mestre; afinal, o pior cego, será sempre aquele que não quer ver! E esses, abundam por aí...

10 comentários:

  1. "Cegueiras que corroem"
    Eu não consigo dizer nada neste momento sobre esta partilha,apenas minhas lágrimas caem e digo estou pronta a servir mesmo que a minha vida se torne diferente.Só Deus existe em meu coração e isso não mudo e não quero mudar.
    Deus tomou a Cruz por todos nós ,muito mais pesada, eu tomarei tudo o que Deus tiver para mim.

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  2. P. António
    Como eu compreendo esta partilha ,esta verdade,que existe em tantos corações ,se eu aqui pudesse descrever,passar toda a dor que o meu coração tem neste momento, causados pela cegueira de quem só pensa no «eu»,mas não.
    Olho a cruz de mãos vazias esperando conseguir fazer a Vossa vontade Senhor Jesus,mas está a ser difícil,sinto-me vazia,pequena,inútil.

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  3. Sim, cegos andamos nós como Igreja, como Povo de Deus chamado a ser «luz» do mundo. De olhos sempre abertos para o mundo, para agradar aos homens, para mostrar-lhes aquilo que nem sequer somos, esquecendo que somos chamados à verdade que Deus é.
    Pe. António não páre nunca de nos desafiar; mesmo que o persigam ou menosprezem, mesmo que o comparem a outros mais facilitistas, não se esqueça nunca que a Quem tem de obedecer é a Deus e à Igreja e não aos nossos ouvidos sempre prontos a escutar o que mais nos agrada!

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  4. P.António
    Não pare nunca, também eu digo ,só as palavras ditas pelo seu próprio nome, sem as mascarar, pode acordar corações adormecidos ,em que a fé é limitada ao ritual esquecendo a entrega o coração aberto,e a entrega da nossa própria vida ,que só a DEUS pertence.
    Bem haja,que a Luz de Cristo esteja sempre em Seu caminho e que Dela nos dê um pouco para que não sejamos os «cegos» que que não são cegos,só o são porque não querem ver.

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  5. Que buscam os meus olhos?
    Que sente o meu coração?

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  6. Joaquim Franco Simões4 de abril de 2011 às 08:26

    O pior cego é sempre aquele que se recusa a ver!É bem verdade. E quantas vezes não somos nós os cristãos a querer permanecer cegos diante da verdade bem esbatida diante dos nossos corações?! Somos profetas do fácil, do cómodo, da imagem que corrompe e corrrói a fé, sentindo-nos bem com essa hipocrisia até! Mesmo que sejam duras estas palavras do nosso Prior, elas são um «tiro certeiro» nos nosso «sonos» como ele nos dizia ontem na Missa. Podemos não gostar de ouvir; poderíamos até querer um pastor que nos dissesse coisas agradáveis, simplistas, para arranjarem adeptos para si próprios! Mas admiro mais a coragem e a ousadia de quem não tem medo do deserto e da solidão porque sabe que deve obedecer antes a Deus do que aos homens! Rezo por si e por nós!

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  7. Com muita fé ,entrega ,reflexão vamos pôr em prática, tudo o que O nosso Prior nos transmitiu, com tanta verdade, tanto amor e tanto ardor .
    Porque nos ama ,porque nos quer no caminho de Cristo e só acordando dos nossos «sonos» nós Lhe conseguimos mostrar, que aprendemos a mensagem e que a SUA entrega a todos nós não é em vão.
    É uma semente que por mais pequena que seja ,consegue vingar e dar fruto.
    Bem haja,bem haja mesmo por estar entre nós.

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  8. Tanto há para fazer no Mundo! Tanto há para fazer na Igreja! De facto, não me parece que o caminho seja o do facilitismo no sentido de conquistar mais uns quantos para a "nossa fé". O Caminho tem que ser o da Verdade e da prática fiel aos "Princípios" e aos "Valores" que fazem de nós Católicos e não membros de qualquer outra confissão religiosa. Cada vez mais penso que a presença dos Católicos no Mundo tem que se pautar pela lealdade á Palavra de Cristo no sentido da compreensão e aceitação da fragilidade humana, mas, procurando sempre a cada dia que a nossa prática, a nossa Vida se apróxime do exemplo que Ele e tantos outros depois Dele nos deixaram, como é o caso de João Paulo II que irá ser Beatificado em breve! Ser Católico, hoje em dia, é cada vez mais exigente, cada vez mais difícil, num Mundo em que as solicitações, até ao nível Espiritual, são tão grandes! Fica a questão - Afinal, o que nos distingue dos Outros? Por vezes, a resposta não é fácil... pelo menos para mim ! Padre António, obrigada por nos obrigar a procurar o tal Caminho, que, por vezes, nos obriga a atravessar o deserto, duro e sem fim á vista ! Se continuarmos a caminhar iremos encontrar a Luz!

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  9. Deus me ajude a encontar a Fé de Amor e não uma Fé de principios. Eu quero sair de uma eucaristia e "tomar" outro caminho, mas é preciso coragem. Ainda estou cego, ainda não olhei para a Cruz com Fé de Amor. Deus me ajude a ver.
    Roy

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  10. Por vezes não há Luz nenhuma que consiga entrar,porque nós simplesmente fechamos tudo, não abrimos a porta,a janela ,nada, ficamos com o nosso coração muito triste, com uma ausência de Cristo assustadora .
    Porque só em Cristo nossa alma repousa e encontra Luz para nós e para os outros,um Luz derivada da única «fonte» capaz de nos dar tudo,Amor, Paz.

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