segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

“Vinde comigo”

No início de um novo Tempo Comum, fomos ontem desafiados, de novo, à mais extraordinária das aventuras: «Vinde comigo, e farei de vós pescadores de homens»!
Ousemos «entrar» na «cena» proposta pela narração do Evangelho…
Jesus de Nazaré, desconhecido ainda de todos os homens, caminha pelas margens do lago da Galileia. No Seu Coração o projecto do Reino de Deus, o desejo de oferecer a salvação a todos os homens, a ânsia de partilhar a eternidade com cada vida humana…
Pelo caminho encontra dois homens, irmãos, simples e rudes pescadores. Homens com uma história pessoal concreta, decerto com desejos próprios de felicidade, com projectos definidos, com horizontes de vida bem delineados.
Eis que, de repente, sem o esperarem, diante de si e das suas vidas, Esse Homem de Nazaré, que não conheciam, que jamais haviam escutado, que nunca imaginaram encontrar… E imediatamente lhe é lançado ao mais fundo da alma um apelo tão desconcertante quanto inesperado: «Vinde comigo e farei de vós pescadores de homens»!
Diz o texto sagrado que eles se ergueram e imediatamente seguiram Jesus! Nada perguntam ou questionam! Nada regateiam ou duvidam! Não se assustam ou ignoram Esse Caminhante do lago da Galileia! Pronta e simplesmente ousam seguir Aquele que os desinstá-la, os desafia e interpela!
Já não lhes interessam as suas «verdade» pessoais, os seus anseios próprios, os seus sonhos particulares! Tudo secundarizam, tudo relativizam, num acto imenso e tremendo de fé, para responder decididamente a essa «voz que não se impõe mas que sentem bem lá dentro» dos seus renovados corações!

Não perguntam «quem és», «que significa ser pescador de homens», «que temos a ganhar», «que temos a perder», «quanto tempo isso significa»… Não rejeitam nem fogem ao apelo divino afirmando que «não têm tempo», que «não sabem falar», que «não possuem talentos», que «não têm capacidades»…
Impressionantemente, deixam a sua história, a sua vida, as suas verdades, as suas certezas e amarras e, num «salto imenso» seguem Jesus Cristo!
Jamais saberemos o que conversaram após esse apelo lançado pelo Mestre; jamais descobriremos que sonhos ou projectos, que palavras e afectos, que sentimentos ou expectativas foram semeadas naqueles dois corações de simples pescadores! Sabemos uma verdade, a mais importante, a mais bela, a essencial: tornaram-se os dois primeiros apóstolos do Senhor!
Sentiram-se e souberam-se de tal forma amados, deixaram-se de tal maneira atrair e arrebatar pelo Coração de Cristo que nunca mais d’Ele se separaram! Nunca mais O deixaram! Nunca mais de afastaram d’Esse Divino peregrino que os cativara e arrebatara nas margens do lago da Galileia!...
Por Ele, pelo Seu Evangelho, pelo Reino de Deus, seriam ultrajados, perseguidos, desprezados e mortos! Mas o amor a Deus, apresentado de forma sublime em Jesus Cristo seria, até ao fim, o ideal das suas vidas, «o mastro grande» que os faria «velejar» até ao derramamento do próprio sangue!

Mais adiante, Jesus encontra mais dois pescadores, também irmãos, que juntamente com o pai intentam consertar umas redes velhas para a faina. Também a esses corações é lançada a mesma semente de inquietação e de ousadia: «Vinde comigo; farei de vós pescadores de homens»!
Deixaram as redes, a barca, o pai, e seguiram Jesus!
Também esta uma resposta pronta, abandonada, confiante, decidida! Também essas vidas se deixaram arrebatar em absoluto por Esse «estranho» «arrebatador» de corações! Acreditaram, perceberam, que a sua missão, a sua pesca, haveria de ser outra! Descobriram que não valia mais a pena tentarem consertar redes sem conserto! Que as redes que necessitavam para se tornarem pescadores de homens eram de outra ordem: a do coração, a da verdade, a da humildade, a do amor!
Quatro vidas, quatro corações transfigurados, apaixonados, seduzidos, por Jesus Senhor! Os primeiros que ousaram dizer «sim» ao Projecto sempre novo denominado Evangelho…

Se ousássemos fazer a «árvore genealógica» da nossa fé iríamos desaguar a estes quatro homens, a estes quatro corações. Tanto lhes devemos; gratidão só pode ser a nossa atitude!
Porque depois deles tantos outros corações, incontáveis outros corações se deixaram também enamorar e arrebatar por Esse Pescador Divino do Mar da Galileia. Até chegar a nós essa mesma é, essa mesma paixão, esse mesmo ardor pela Boa Nova de Cristo.
E a seguir a nós outros terão de se aventurar nesse «Mar adentro» do amor de Deus. Precisam apenas que sejamos nós os «pescadores» deste tempo que os sabem atrair para Cristo e para a Sua Igreja; precisam apenas que lhes lancemos a redes da ternura e da misericórdia, as redes da caridade e da justiça, as redes da transparência e da presença consoladora… numa palavra, as redes do amor gratuito, verdadeiro, puro, libertador.
Que e como temos nós sido «pescadores de homens»? Como temos nós respondido e correspondido ao permanente apelo de Cristo «Vinde comigo»? Que «redes» temos nós utilizado como membros da Igreja? «Discutimos», «regateamos», «duvidamos», diante dos apelos que Cristo e a Igreja nos fazem ou, ao invés, respondemos prontamente a cada proposta que nos vem de Deus?!

Deixamos as «redes velhas e sem conserto» que nada nem ninguém conseguem atrair para Cristo ou permanecemos irredutíveis presos a elas, impotentes e incapazes de entrar «mar adentro» ao encontro da novidade que Deus nos reserva em cada dia?

Queridos amigos, quantos «nãos» temos dado ao Senhor! Quantos adiamentos, quantas preguiças, quantos comodismos, nas nossas vidas que travam a vinda de mais e mais homens e mulheres para o Coração de Deus!

Que diferença abissal entre as respostas e atitudes daqueles primeiros quatro corações e os nossos! Como urge uma mudança amorosa, confiante, abandonada, a Cristo Jesus! Como este nosso tempo necessita de homens e mulheres valentes que ousem fazer do Amor o «mastro grande a sua vida», o «Ideal» que nos move e guia a cada segundo da nossa existência!

«Vinde comigo» diz-nos, de novo Jesus!
De mãos dadas, de corações irmanados, avancemos nesta aventura divina de sermos pescadores de homens!
Mesmo que não fisicamente convosco, garanto a cada um a minha decisão de teimar seguir o meu Senhor nesta Igreja que é a nossa. Mesmo «à distância», mesmo quando custa e precisamente porque custa, estou convosco decidido a percorrer essa estrada que nos leva ao Céu…
Mesmo quando dói e arde a aventura da nossa fidelidade, garanto-vos a minha unidade ao vosso coração... Mas sem estar, estou; sem estar amo-vos; sem estar, sirvo-vos; sem estar peço-vos a oração e a intendência pela minha santidade…
E juntos, escutemos sempre de novo: “Vinde comigo e farei de vós pescadores de homens”…

9 comentários:

  1. "Vinde comigo "
    Só essas palavras,hoje me conseguem preencher o coração que está todo em vós Senhor.
    Padre António, Bem haja por toda a Palavra ,todo o sentir que ficam no meu coração,agora humildemente não consigo dizer mais nada.

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  2. No Domingo, o Evangelho falava-nos de quatro pescadores:
    Quatro vidas, quatro corações transfigurados, apaixonados, seduzidos, por Jesus Senhor! Os primeiros que ousaram dizer «sim» ao Projecto sempre novo denominado Evangelho…
    No Domingo, à volta do Altar, na Eucaristia, quatro dos «nossos» seminaristas:
    Quatro vidas, quatro corações transfigurados, apaixonados, seduzidos, por Jesus Senhor!” Quatro, de entre tantos, ”que ous(ar)am dizer «sim» ao Projecto sempre novo denominado Evangelho…

    Como eles, que eu saiba dar o meu «sim» a Deus, àquilo que Ele planeou para mim...
    Caminho rezando, agradecendo... subo consigo, Pe. António... que há quase vinte anos ousou – e continua a ousar – dizer «sim»!
    E confio!

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  3. "Vinde amigo"
    Padre António eu não consigo perceber o que sou, sinto-me pequena e sem nada saber,olho em redor , acho que nada sei ,como posso ser eu «pescador de homens»? apenas meu coração tem Jesus Cristo e muito amor e me faz mover.
    «Vinde comigo»"diz-nos de novo Jesus" e o nosso Prior, caminhando connosco e nós caminhando a Seu lado ,o que puder e souber ,aqui estou sempre.
    As Suas Palavras Padre António são de um coração humano, com muito amor por nós para nos conduzir ao caminho de DEUS,Bem haja.

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  4. "Vinde comigo"
    Padre António, pode crer eu vou sempre mesmo com os olhos fechados, com toda a confiança.
    Desejando ser « pescador de homens» um pescador consciente e com Deus e o amor, no centro da minha vida.

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  5. Ontem, ao ler esta meditação transpus- me para o Mar da Galileia, como foi bom rever ainda que mentalmente esse lugar único que tanto me disse. Aquele Mar!
    Este texto diz tudo o que preciso para reflectir, meditar se tenho seguido Jesus sem mas , nem talvez.
    Senhor, eu quero contigo e com irmãos entrar nesta " Aventura Divina" a de ser, embora cheia de limitações e fragilidades "Ser pescador de homens" tendo- o, a si, como mestre, timoneiro desta faina. Mesmo à distância sinto que está perto, muito perto, presente.

    Prior, bem haja pelas suas palavras tão sentidas!
    Palavras que me interpelam e me ajudam a fazer caminho.

    JR

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  6. Vem comigo Jesus, vem caminhar, seguir-me, iluminar e guiar-me. Obrigada Senhor porque me amas e és indiferente às minhas misérias.

    Sua bênção Padre, dia feliz e abençoado para o Sr.

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  7. Padre António eu leio e volta a ler todo o sentir que entra em mim e me faz pensar e desejar ser digna deste amor infinito que Deus me mostra apesar de todas as minhas fraquezas .
    Jesus Cristo disse e continua a dizer "Vinde comigo"pelas Palavras do nosso Prior que connosco caminha, sempre sem desanimar mesmo quando nós nos sentimos fracos e nem sempre correspondemos.
    Pode sempre contar comigo Sr Prior.
    Bem haja

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  8. Não é nada fácil Padre António,nada mesmo.

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  9. Quando em conjunto se preparam as crianças para receberem Jesus nos seus corações ,nas suas vidas com todo o amor, só existe um pensamento " Jesus vinde comigo" a estas crianças e ajuda- as a compreender o Vosso amor,porque sem Vós não somos nada.
    Amo-VOS Senhor Jesus.

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