quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

"Se o grão de trigo não morrer..."

Pensei inicialmente publicar apenas a letra desta mesma canção; ela diz "tudo", ela expressa bem o "pulsar" da minha alma, o sentir do meu "ser"...
Humanamente definiria esta realidade como "Cansaço"! Simplesmente!
Porém, a dimensão da fé ergue e dá necessariamente sentido a esse cansaço e a essa fadiga, às "correrias" e às incontáveis solicitações que, diariamente, intento responder...
Muitas "vozes", muitas "perguntas", muitas "sms", muitos emails, muitas "frentes" em simultâneo, muitos desafios, muitas angústias, muitos "porquês", muitos, tantos, corações, vidas, histórias, a querer "um minuto", "uma conversa", uma "atenção", um "encontro", uma "reunião"...
Por vezes dou comigo a pensar e quase a concluir a minha absoluta impotência e incapacidade de responder ao solicitado e que urge responder categoricamente "não"!
Outras vezes, este cansaço, esta fadiga, este corre-corre, esta panóplia de inquietudes que me absorvem,   quase me convencem que é preciso "parar" - no sentido de colocar um stop - e reservar-me aao mais básico, a relativizar problemas e dificuldades alheias, a secundarizar apelos e vozes dos demais!...
E quando penso que está na "hora" de me convencer que o meu "lugar" não é este, no sentido em que seria preciso um outro alguém mais dinâmico, mais jovem, mais "sossegado", mais capaz?!!!
Mas, e ao mesmo tempo, lembro e relembro, esta mensagem que canta esta canção: sou chamado a ser "grão de trigo" lançado à terra, pisado, calcado, morto, a fim de que os outros tenham vida e a tenham em abundância...
Nas conversas adiadas, nos encontros por marcar, nas presenças não agendadas, nas escutas não realizadas, está por detrás uma simples razão: nalgum lugar, com um outro alguém, diante de outra realidade ou problema, perante determinado projecto ou necessidade premente, intento ser este "grão de trigo"...
Penso no que concluirão aqueles que "esperam" indefinidamente pela "sua vez"!
Como gostava de lhes mostrar, quase provar, que na minha humanidade, no meu ser de pastor, nesta vida concreta que sou e que levo, não desvalorizo ninguém, não menosprezo angústia alguma, não secundarizo "gritos de alerta" ou "corações apertados"; simplesmente não sei mais, não consigo mais...
Não é um "queixume" esta minha "escrita" de hoje; ao contrário, é este feliz partilhar da consciência de que me sinto seguidor de um Mestre que morre na Cruz por amor, e que outro não há-de nem pode ser o meu caminho. E ainda bem que assim é. É este "dizer" por palavras simples que teimo ser "semente" lançada à terra, "grão de trigo" que há-de morrer - cansar-se, gastar-se, desgastar-se - até ao fim, mesmo que não consiga "agarrar" e abraçar a todos.
S. Paulo afirmava que quando se sentia fraco é que era forte; peço a Deus essa fé, essa consciência. Porque me sinto demasiadamente pequenino e fraco para responder ao tanto que me é pedido. Rezo para que, diante da impossibilidade de fazer tudo quando gostava de fazer, diante da impotência de corresponder ao imenso que me é solicitado eu consiga agradecer cada dia, cada noite, por este mistério que me envolve: sou apenas e tão somente um pequenino grão de trigo que há-de morrer cada vezc mais na alegria da fé, na paixão por Jesus de Nazaré...

9 comentários:

  1. Levantei-me cedo, como sempre e deparei com este seu pensamento.
    Há muito para dizer, há muito para pensar, mas e, acima de tudo, há que dizer que ninguém é várias pessoas, ninguém consegue duplicar as horas de cada dia, ninguém é super-homem.
    Se esse ´grão de trigo´ um dia foi lançado à terra e deu ´fruto´, Ele sabe bem o que fêz. ´Agarrou´ um homem que tinha que ser padre. Só que esse homem que se fêz padre, foi mesmo padre de verdade, não andou ao sabor do vento e começou a ter todo o rebanho à sua volta.
    Tudo isto é sinal de uma certeza: que existe um Cristo bem vivo, bem humano dentro de si.
    Dê as respostas que consegue dar, ajude quem precisa de si, quem o procura por desespero, mas não se ´mate´, porque a saúde é muito preciosa e há padres que também o são.
    Deus encarregar-se-á do resto...

    ResponderEliminar
  2. Pe. António
    Boa tarde ,um sentir profundo,um pensamento muito difícil de fazer qualquer comentário,porque são situações e sentir que saem do fundo da alma,e geralmente nós estamos mais habituados a falar do que a ouvir,(egoísmo) pensamos sempre no Pastor como um pilar,esquecendo o ser humano que é, e os limites.
    Reitero todo o comentário Anónimo 08:37.
    Como diz Madre Teresa de Calcutá
    "Não se preocupe com números.
    Ajude uma pessoa de cada vez e sempre comece pela mais próxima de você" sem stress,como nos disse à dias ouvir a canção de Hermana Glenda, profundamente.
    "Amanhã vamos ser mais de Deus,mais do amor que Deus é".

    ResponderEliminar
  3. Um dia destes houve um padre que me perguntou se eu não tinha pena de não ter tido um filho (rapaz). Perguntei-lhe porquê...e ele respondeu-me que, sendo eu uma pessoa como sou, teria uma alegria enorme que ele fosse padre. Respondi-lhe que teria adorado, sem dúvida. Mas padre mesmo, com todas as letras maiúsculas.
    Tudo isto porque o seu pensamento fêz-me sentir um pouco do muito que deve sentir por estar ao serviço de Deus e dos outros. Quando reza e diz por exemplo..."Creio em Deus..." deve ser um ´peso´ em cima de si fantástico. O Padre António é uma certeza, uma certeza muito rica, que nos ajuda a crescer na fé e com fé. Obrigada !

    ResponderEliminar
  4. Ao ler o partilhar "Cada dia.Todos os dias" do livro mais que livro,porque nos conduz a Cristo,"Tenho-vos escrito"está uma passagem em que diz:
    "Tu foste o renascer da esperança,
    Tu foste o renascer de mim
    Sem resistir, eu tinha de Te seguir
    e encher meu coração
    na inquietação
    que foste Tu!"
    " Abençoado e bem aventurado desafio proclamado e proposto na tarde inesquecível daquele Maio de 1982.
    Tudo mudou....
    E,com avanços e recuos,com quedas e fidelidades,fui chamado a proclamar a Boa Nova da esperança,da vida e da paz...
    Por isso mesmo,por isso tudo «eu só queria agradecer»...
    E agradecer.Cada dia
    Todos os dias"
    Foi o Senhor Jesus que O chamou pelas Mãos do saudoso Beato João Paulo II,e se Deus o chamou! só à uma frase,uma atitude,um pensamento, apesar de todas as fragilidades ao longo do caminho.
    "Eu venho Senhor para fazer a Vossa Vontade"

    ResponderEliminar
  5. "Eu vou Senhor para fazer a Vossa vontade."
    Eu continuarei sempre Senhor, para fazer a Tua vontade.
    E é no continuar, no sentir que continuamos a crescer na fé, que faz (cada vez mais sentido) a nossa presença como padres, como gente que somos de Deus.
    Adorei o seu pensamento. Gostei muito, acho que está com mensagens para toda a gente, e especialmente para aqueles que pensam que o padre António consegue esticar as horas do dia, mas houve uma coisa que não gostei e que discordo: "...E quando penso que está na "hora" de me convencer que o meu "lugar" não é este, no sentido em que seria preciso um outro alguém mais dinâmico, mais jovem, mais "sossegado", mais capaz?!!!". Jovem ? Dinâmico ? Mais Capaz ? Mais sossegado ? Nós não precisamos de alguém mais jovem, porque um bom prior não se vê pela idade, mas pela sua mensagem íntegra. Mais dinâmico ? Deveria ser para quê ? Mais dinâmico que o padre António ? Difícil...muito difícil...Mais capaz, deverá haver, mas estamos muito contentes com tudo o que tem sido feito, e, se pensarmos...em pouco mais de uma ano. E o resto...poderia copiar tudo o que o Anónimo escreveu ontem às 8.37, pois é, palavra, por palavra, aquilo que eu penso.

    ResponderEliminar
  6. Só posso agradecer esse morrer pelo outro... nesta altura...
    Rezo consigo. Beijinho :)

    ResponderEliminar
  7. Rezamos por si padre António, pelas suas melhoras.
    Precisamos muito de si, mas restabelecido. A Igreja de Carcavelos já não vive sem o Prior. Por isso que Jesus lhe conceda as rápidas melhoras.
    Uma noite passada o possível e procure aproveitar mesmo para descansar amanhã, já que tem folga !
    Antes de terminar, tenho que lhe dizer: gostei imenso da sua homilia de ontem das 19. Só é pena que se veja pessoas a falar umas com as outras, enquanto o Padre António fala. Afinal, a homilia é para ouvir ou...para fazermos como as crianças: chegou a hora do intervalo ???
    Que pena ! Nem sabem o que perderam...Eu, e quem esteve atento, ganhou muito em ouvi-lo. Obrigada !

    ResponderEliminar
  8. "Como gostava de lhes mostrar, quase provar, que na minha humanidade, no meu ser de pastor, nesta vida concreta que sou e que levo, não desvalorizo ninguém, não menosprezo angústia alguma, não secundarizo "gritos de alerta" ou "corações apertados"; simplesmente não sei mais, não consigo mais..." (disse o padre António.
    E o ´mais´ já é muito. Por vezes até podemos não compreender...mas a vida de um sacerdote não é fácil e requer um grande peso e muita ajuda.
    "Não é um "queixume" esta minha "escrita" de hoje; ao contrário, é este feliz partilhar da consciência de que me sinto seguidor de um Mestre que morre na Cruz por amor, e que outro não há-de nem pode ser o meu caminho. E ainda bem que assim é. É este "dizer" por palavras simples que teimo ser "semente" lançada à terra, "grão de trigo" que há-de morrer - cansar-se, gastar-se, desgastar-se - até ao fim, mesmo que não consiga "agarrar" e abraçar a todos." - Obrigada pela sua confissão pública. Todos somos seres humanos, e todos existimos para nos ajudar. Que Carcavelos se una cada vez mais, para que a Paróquia, a Igreja, os homens e as mulheres, sejam mais e mais a força, unidos a Cristo, para estarmos sempre de mãos dadas, não por obrigação, mas por ´amor´.
    "...sou apenas e tão somente um pequenino grão de trigo que há-de morrer cada vez mais na alegria da fé, na paixão por Jesus de Nazaré..." - Que nós consigamos dizer baixinho isto todos os dias. Se o conseguirmos, a nossa força, a nossa fé vão ser cada vez maiores...Vamos subindo essa escada com todo o amor que Cristo nos ensinou.
    Eu compreendo-o e sei que não se consegue fazer em vários. Mas a sua garra, vai ´multiplicar os seus pães´.
    Obrigada Padre António pela sua grande paixão por Aquele que deu a vida por todos nós, essa paixão que nos contagia.
    R.A.

    ResponderEliminar
  9. Já vários amigos, que, como eu, não perdem uma Noite de Oração em Carcavelos, falaram-me naquela noite em que fêz uma exposição do Santíssimo Sacramento. Foi uma noite muito bonita e inesquecível. Será que não nos podia presentear com uma noite dessas na segunda-feira ? É que há muita gente que ouviu falar mas não esteve presente. Era uma boa altura para estarmos em oração pelo futuro da igreja e pelo futuro Papa.
    Considere sobre isto. Tenho a certeza que vai ser uma noite inesquecível num momento como este.
    Obrigado

    ResponderEliminar

Web Analytics