sexta-feira, 30 de novembro de 2012

"Redes sem conserto"!

Diz-nos o Evangelho deste dia de Sto. André que Jesus passava junto ao lago da Galileia e viu dois irmãos a consertar as redes da faina e a quem segredou: vinde coMigo e farei de vós pescadores de homens...
Eles ergueram-se se seguiram o Mestre que lhes falava; eles acreditaram n'Aquele "estranho" que os desafiava a ir mais longe e mais além; eles perceberam que não fazia mais sentido nas suas vidas a teimosia em tentar consertar redes sem conserto...
Parece-me uma "parábola", um "sinal" para os discípulos de cada tempo; entendo estas palavras como um renovado desafio do Mestre da Galileia a colocarmos também nós um "stop" nessa canseira e nessa teimosia, nesse afã e nessa obsessão de tentar "remediar", "consertar", "aguentar", "preservar", "redes" sem conserto, isto é, em alimentar esforços de teimosia em "verdades" que o não são de facto, em "certezas" e "dogmas" que apenas existem e permanecem nas nossas "cabeças" e "inteligências" demasiadamente enviesadas e incapazes de se abrirem à novidade permanente e espantosa do Evangelho do Reino!
Penso que mesmo no seio da Igreja, das nossas Comunidades cristãs, nos nossos grupos, movimentos, relações, se teima em demasia em consertar "redes sem conserto", ou seja, em gastar energias, forças, entusiasmos, em opções e realidades, em projectos e soluções que não falam do Deus de Jesus Cristo! Que teimamos em "esquemas" velhos e retrógrados porque com medo daquele "novo ardor" próprio de quem ousa a denominada "nova evangelização"!
Decerto é mais fácil e mais cómodo; quiçá mais gratificante pessoalmente; mesmo mais "seguro" que o arriscar em "sair", em "sonhar", em "ousar", "tornar-se "pescador de homens" com outras redes, com outras palavras, com outros gestos, com outros sentimentos, com outros horizontes...
Talvez estes sejam os tempos em que devamos deixar os "odres velhos" da burocratização da fé e da Igreja, da liturgia e da hierarquização sistémica e intocável da vida eclesial! Talvez sejam esta a hora certa para colocar de lado, e definitivamente, o "vinho velho" e "amargo" do preconceito e da marginalização dos diferentes, da presunção de possuidores de verdades absolutas e inalteráveis, da sobranceria diante da vida, da cultura e da história de outros, afinal, peregrinos e caminhantes da eternidade como nós!
Talvez esta seja a oportunidade que nos é dada para a purificação do coração e da mente a fim de acolher, aceitar e abraçar cada outro para lá das suas diferenças e alteridades; seja o momento adequado para acreditarmos que apenas temos para oferecer ao mundo a Pessoa de Cristo e Cristo Crucificado, escândalo e loucura, mas sabemos e acreditamos que força, poder e sabedoria de Deus!
Parar de teimar em "consertar redes sem conserto", como sejam discussões inúteis e petições ridículas acerca do regresso das vestes sacerdotais de forma obrigatória! Teimar no "consertar" o latim como linguagem imprescindível para a vida da Igreja quando quase ninguém percebe ou entende uma única palavra de uma língua literalmente "morta"! Consertar "redes sem conserto" em discussões e debates, em colóquios e embirrações sobre a forma única e exclusiva do acto da comunhão eucarística (de joelhos?!!!) sem nos questionarmos se não será mais indigno comungar com um coração impuro que de pé ou nas mãos!!!
Com efeito, urge repensar com que "redes" intentamos tornarmo-nos "pescadores de homens"! Corremos o risco de não "pescar" rigorosamente ninguém! Porque não falamos a linguagem deste tempo; porque nos afastamos da realidade que nos envolve; porque nos convencemos que os corações de hoje e as suas sedes e fomes são as de ontem...
O mesmo Evangelho, sim, claro, absolutamente! Mas com renovado ardor no seu anúncio, renovada paixão na sua explicitação, a fim de que se entenda e acredite que "o Filho do Homem não veio para ser servido mas para servir" e que só um Mandamento nos foi deixado como herança: "Amai-vos uns aos outros como Eu vos amei"!
Demagogias, por mais piedosas que sejam, não vencem nem convencem os corações...

6 comentários:

  1. Olá Pe António :) neste Ano da Fé temos de pedir incessantemente que Deus nos conceda esse dom, o único que nos torna capazes de escutar a Palavra de maneira a que nos sintamos tão amados que só sentiremos também a necessidade de amar.
    Aí teremos coragem para entregar as nossas redes seguros de que Jesus é o único que as pode remendar e segui-Lo sem calculismo. Só pedindo o Dom da Fé seremos Sinal do Reino de Deus para quem O não conhece e conseguiremos evangelizar o Amor.
    Só assim serão consertadas as nossas redes!
    Muito obrigada pelo que nos escreve e beijinhos

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  2. "Redes sem conserto"!
    Nós teimamos em consertar algo que não tem conserto,que nem pertence ao Reino de Deus,apenas a nossa mente se enche de preconceitos,de ideias em que queremos e damos prioridade ao acessório ,que não contam nada, tudo fica, nós vamos só com a nossa alma com todo o bem que fizemos e as ideias ficam para serem discutidas por outros que também vão perder o seu tempo em algo que para mim não é nada,apenas um coração sincero com tudo o que ele tem e entregar a Deus para que ELE transforme e nos faça ver o que realmente tem conserto e o que realmente faça JESUS sorrir.
    Depois aí sim, nós difundimos o que nos vai na alma, porque vem do fundo do coração e só assim pode ser recebido e sentido pelo irmão,nem nos lembramos de mais nada porque no coração existe AMOR,amor incondicional.

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  3. Hoje era um dia muito importante para todos nós...
    Gostava de agradecer. Agradecer por este começo de Advento, em que todos nós, sem excepção, precisávamos de ´mais alguma coisa´...Aquela coroa diferente, espigada, mas tão perfeita, tão entrelaçada, nos meio dos ´laços´ da nossa fé. A nossa vida precisa de momentos especiais com Cristo, e de momentos onde alguém nos fale d´Ele. É importante, é muito importante.
    Nós somos seres humanos pecadores, que precisam mesmo de encontrar estes encontros, como o desta homilia, para conseguirmos interiorizar tudo o que não foi interiorizado.
    Quando vou à igreja...à missa, tento e aprendi, a deixar todos os ´episódios´ da minha vida lá fora, fazer silêncio, antes de rezar...antes de começar a Eucaristia. Não vou dizer que é sempre fácil, mas a maior parte das vezes é, porque temos que saber dividir as coisas, os locais, os momentos. Tudo o que possamos ´trazer´ de uma homilia, é mais uma ´flor´ que trazemos para ´enfeitar´ a nossa ´casa´, que não é mais que o nosso coração.
    Vou à missa em Carcavelos, bem como sempre que posso vou a uma igreja a Lisboa, porque ambos os sacerdotes (cada um à sua maneira e os 2 bem diferentes) me preenchem, me ajudam, agora por exemplo a construir o ´meu presépio´.
    Um padre faz toda a diferença. Um padre faz toda a diferença. Hoje tinha sido um dia em que, se o trabalho permitisse, teria assistido às duas missas: em Lisboa e em Carcavelos. Mas o Pe. António ´pintou o quadro´ na perfeição.
    Que Deus o continue sempre a abençoar, para que nós todos tenhamos e continuemos a ter o privilégio de enriquecer o nosso coração, com um Prior que faz tudo por isso.
    Que Deus seja louvado, e que Ele o continue sempre a abençoar e a encaminhar.

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  4. Quando a razão se sobressai ao coração muito difícil será,nós conseguirmos levar alguém a creditar que somos de Jesus,porque a nossa vida tem de falar de Deus em qualquer situação,fazendo a diferença, e desinstalar,de contrário somos uma "rede sem conserto" do mesmo modo ou pior, porque em consciência de que deveríamos falar por Jesus e ficamos numa letargia sem limites.

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  5. "A sabedoria que vem do alto é, antes de tudo, pura, depois pacífica, modesta, conciliadora,
    cheia de misericórdia e de bons frutos, sem parcialidade e sem fingimento. O fruto da justiça é
    semeado na paz, para aqueles que promovem a paz."
    (Tg 3 17-18)

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