segunda-feira, 29 de outubro de 2012


"Luís... é o teu nome, a tua história..."

Conheci-te ontem mesmo, homem com nome, com história, com vida, com passado, tristes, magoados, receosos, tímidos, marcados negativamente...
Passaste o fim-de-semana fora desses muros da prisão que têm sido a tua casa, o teu lar, o teu mundo, nos últimos anos!
Mas disseste-me que o passaste dentro de casa, fechado, com medo do mundo, medo dos homens, dos seus juízos, dos seus pensamentos, dos seus dedos apontados... Com um sorriso temeroso segredaste que sairias em liberdade "já daqui a três meses"! (Nem consigo imaginar o que seja um dia numa prisão, quanto mais um mês, três meses, anos)!!!
E percebi-te super ansioso, reparei depressa nas tuas inseguranças, "palpei" rápido os teus medos incontáveis... mas, sobretudo, senti e "toquei" esse teu coração gigante, sedento, faminto, de sorrisos sinceros, de amizades verdadeiras, de cumplicidades e de sonhos renovados...
Conheci-te apenas ontem, no ápice de uma hora que passou tão depressa, mas parece, meu querido amigo, que te conheço desde sempre. Foi tão fácil entrar "na onda" do teu coração, na "órbita" dos teus medos e anseios, da tua solidão e das tuas inseguranças; foi tão fácil, ó homem meu irmão, sem nunca te ver visto, sem jamais ter partilhado a minha vida com a tua, sentir que ambos estamos nesta aventura solene e sublime que é a vida e o desejo de ser feliz.
Como vai ser quando sair da prisão? Onde irei morar? Encontrarei trabalho? Como sobreviverei? Que fazer para ajudar a minha família?... Estas e outras questões enchem e preenchem as horas do teu viver quotidiano quanto "apenas" te faltam três meses para recuperares a liberdade.
Pensas sobremaneira nessas questões quando, e ao mesmo tempo, te inquietas e chicoteias interiormente ao saber categoricamente que hoje regressarias à tua cela, à tua prisão, ao teu mundo, escondido do meu...
Sabes que te abracei; sabes que te disse que apenas via diante de mim um homem como eu que busca a forma de ser feliz, sabes que te disse onde morava e que aqui terias um tecto, uma cama, um espaço, um lugar. Não, não serás como Aquele Menino que um dia não teve lugar na hospedaria! Já bastou que essa história tivesse acontecido naquela primeira noite de Natal. Não pode perpetuar-se contigo. Jamais...
Achas estranho; dizes que não és homem de fé, de missas, de religião... que se te conhecesse mais talvez retrocedesse na oferta e no sorriso que te ofereci!
Mas eu disse-te que para lá da religião, das missas, dos rituais, importam os corações irmanados, entrelaçados, cúmplices, no desejo de ser mais feliz tornando cada outro também ele mais feliz...
E depressa, bem depressa passou aquela hora... e partiste. E hoje entrarias de novo naquele "deserto" esperando que passem esses três longos meses...
Telefonei-te hoje, quis de novo escutar a tua voz, escutar o pulsar desse teu coração, minutos antes de entrares nessas masmorras tremendas e inimagináveis... Guarda, meu irmão, essa certeza: no dia em que saíres, se tudo e todos te falharem, aqui tens um lugar. Mesmo que te não conheça. Precisamente porque te não conheço. Precisamente porque não vais poder agradecer-me. Precisamente porque em ti descubro e redescubro Aquele que em ensinou a tentar ser bom samaritano de cada coração... E o teu foi aquele que ontem me apareceu para amar, para acolher, para abraçar...
Homem sem rosto e sem história para o mundo, homem caído à beira do caminho, sabe e crê que tens nome, tens colo, tens um sorriso à tua espera... o de Deus na vida daqueles que perderem o medo da compaixão, da ternura, da caridade...
Luís, aí onde estiveres, acredita que tens um pedaço deste meu pobre coração.
E aí estará a Igreja que sou, a Igreja em que acredito, a Igreja de Jesus de Nazaré...

14 comentários:

  1. Luis, a unica coisa que sei de ti é o teu nome, mas conta comigo...

    ResponderEliminar
  2. Hoje acordei antes das 7 com o telefone a tocar. Do outro lado da linha era alguém que começou por me pedir desculpa por me acordar, mas que precisava de ouvir uma palavra amiga. Alguém que não está nada bem psicológicamente e que pouco importava a hora. Não fiquei nada perturbada por me ter acordado, fiquei perturbada porque sei que, em outras alturas, aquela pessoa nunca faria uma coisa destas, e isto mostra o estado em que se encontra. Alguém que também o padre António conheceu, em outras paragens. Prontifiquei-me para que nos encontrassemos e ela aceitou.
    E foi por acordar tão cedo que abri o computador e deparei com este pensamento que fez com que as minhas lágrimas rolassem...É aqui, é nestes momentos que eu digo e repito: “Ser padre é muito mais do que ser padre.” Aquela rotina diária, que não pode ser rotina, porque um padre tem de o ser de alma e coração. Um dia não pode ser igual ao outro, tem de ser sempre uma surpresa em Cristo e com Cristo a amparar.
    Este pensamento faz-nos pensar, faz-nos pensar de várias maneiras. Mas o importante foi o seu ´porto de abrigo´ que pôr à disposição de alguém que tem medo da vida. Sem comparação...comparei na parte de ´ter medo da vida´: esta pessoa que me telefonou, está cheia de medo da vida, por outras razões é claro. Infelizmente já não tem um padre que lhe ´ofereça´o seu ombro amigo. Infelizmente perdeu um grande amigo e não conseguiu (como muitos...) fazer o ´luto´. Tem um tumor e não sabe o dia de amanhã...
    Esse Luís, (pouco importa o nome) precisa de tudo, precisa, acima de tudo, que acreditem nele, que lhe estendam a mão, que acreditem nele, mais do que passar fome, porque a alma doi mais do que o estômago. E é nestas alturas que se vê que há padres que não seguiram o caminho do sacerdócio por profissão, mas sim por vocação. Por isto...que Deus seja louvado.
    Esta frase, estas frases, só por si, já dizem tudo: “Luís, aí onde estiveres, acredita que tens um pedaço deste meu pobre coração. E aí estará a Igreja que sou, a Igreja em que acredito, a Igreja de Jesus de Nazaré...”
    Temos na Igreja de Carcavelos um homem que é homem antes de ser padre, com os seus defeitos, como todos os humanos, mas que consegue ser mais humano que muitos humanos. E não estou a dizer isto por causa deste pensamento, desta realidade. Digo isto, porque já o conheço há alguns anos e já o conhecia antes de o conheceu. Sabe que havia alguém que me falava muito de si, e que dizia que o Padre António era um padre com todos os ´predicados divinos´, um padre que qualquer paróquia quereria ter, um padre que fazia milagres com os jovens. E esse homem não se enganou, como nunca se enganava.
    Continuo a dizer que este ´Blog´ é muito mais importante que o Facebook, porque aqui, as pessoas não se dispersam, concentram-se só e exclusivamente no seu pensamento.
    Continue Pe. António com essa sua garra, porque o Mundo precisa muito de homens que foram padres, porque houve realmente um grande chamamento divino. Parabéns ao Senhor pelo seu sacerdócio.
    R.A.

    ResponderEliminar
  3. Pe, António não existem palavras para descrever o que eu senti, o que chorei ao ler todo este sentir Seu,do Luís e nosso,porque todos nós som com responsáveis uns com os outros no bem e no mal,quantas vezes as pessoas chegam a extremos porque a compreensão que lhes é dada é zero ,porque estamos tão ocupados com as coisas do mundo que esquecemos o ser humano que bastava apenas uma palavra para não entrar no erro,e depois da pessoa pagar o erro não se olha porquê ? porque a sociedade está tão «perfeita» que se julga acima de tudo e todos ,quando somos todos iguais,todos cobertos pelo mesmo tecto,que é o Céu e Jesus vendo como todos estamos longe DELE.
    Padre António,Bem Haja não tenho palavras para comentar tudo o que aqui está escrito,descrito,todo este sentir, porque sei que o Seu coração não poderia ser de outro modo,porque o Padre António é Apóstolo de Jesus,e Igreja e toda a Sua vida o demonstra .
    Obrigada.

    ResponderEliminar
  4. Luis, também nós, mesmo sem te conhecermos, conta connosco.

    Rosalina + João

    ResponderEliminar
  5. Bem Haja por esta partilha que me deixa a pensar e me toca tão profundamente....
    O Evangelho, a palavra feita realidade na nossa vida...

    ResponderEliminar
  6. Tem toda a razão não é preciso andar sempre com o terço na mão é preciso é tê-lo sempre no coração,sempre Jesus em nós,se todos escutassem esta Maravilhosa Homilia,repleta de amor e vontade de nos mostrar o céu,com o coração aberto e a vontade de tudo mudar,que bem ficaria o mundo.

    ResponderEliminar
  7. Toda esta vivência faz- nos ir ao encontro da Fé, nas "casualidades" de Deus estamos vivendo o Ano da Fé proclamado pelo Santo Padre. Faz despertar em nossos corações a essência do ser cristão.Poderá fazer acordar no coração do Luís, dos Luíses de todo o Mundo que Deus os ama, que deseja a sua felicidade e deseja ardentemente o Reencntro.
    Obrigado Padre António pela sua disponibilidade para acolher os marginalizados da sociedade.Em si eles vêem o rosto da Esperança, o Rosto de Deus.
    Obrigado pelo seu testemunho e desafio.


    JJ

    ResponderEliminar
  8. Não tenho palavras para dizer o quanto adorei (se esta é a palavra) a Eucaristia de hoje das 10horas, dia de Finados. Muito honestamente, não ligo nada a este dia. Acho que devemos recordar os nossos entes queridos nas datas específicas de cada um e, para mim, relembro todos os dias, porque rezo por eles, pelos que fizeram história, na história da minha vida. Simplesmente vou à missa, porque lá, o sacerdote ajuda-nos na oração divina em conjunto, para rezarmos por aqueles que foram tão especiais para cada um de nós. Foi uma homilia...riquíssima, onde todos os pontos se entrelaçaram e formaram um grande elo de ligação entre aqueles que estavam ali, naquela Igreja de Carcavelos de alma e coração. As suas palavras foram ao encontro de tanta coisa bonita que guardamos de quantos já nos deixaram fisicamente, mas que permanecerão para sempre no coração de cada um. E como há seres que foram insubstituíveis e únicos, aquelas palavras foram um eco de oração espontânea e linda, que nos enriqueceu a alma.
    Há coisas que não se agradecem, mas...eu tenho que dizer mais uma vez: obrigada Pe.António por tudo aquilo que nos transmite, nos ensina. A grandiosidade da sua troca de olhares com o Papa João Paulo II...essa, tenho que agradecer a Deus. Valeu a pena, valeu a pena. E o resultado foi magnífico a nível de sacerdócio. Que o Senhor o conserve por muito tempo em Carcavelos, para que possamos ver as pessoas tão felizes e ´cheias´ como estavam ontem na missa das 19.
    R.A.

    ResponderEliminar
  9. Mais do que um comentário a este texto, "Luis é o teu nome e a tua história" , que está repleto de amor e dádiva, Hoje estou aqui para lhe agradecer, Pde, António, pela Homília da missa das 10:30H. Pelo ensinamento precioso, para um coração que despertou inquieto e triste e que deseja tanto encher-se do Amor de Deus! As suas palavras são tão simples, tão directas, tão cheias de sentido... não há como não ficar "suspenso" delas. Um Domingo triste e cinzento e em que, se avizinhava que, o animo e o coração iriam partilhar dessa tristeza e escuridão, de repente ganhou cor e uma alegria imensa porque acolheu a palavra que precisava: Nada mais conta só o Amor de Deus basta.... Bem haja Pde. António por tudo e por ter sempre as palavras certas no m omento certo.

    ResponderEliminar
  10. Eu gostava de dizer por palavras o que senti na segunda-feira, na Noite de Oração. Já tinha assistido a muitas lá, mas esta foi mesmo muito especial. Não tenho palavras para lhe agradecer Prior, porque nunca assisti a uma Adoração do Santíssimo desta maneira. Deu-me uma paz muito grande e foi muito bonito a maneira como as pessoas fizeram silêncio. O seu silêncio no meio de todas as orações foi fundamental. Adorei, aquela noite foi a mais bonita de todas. Nem sei o que hei-de dizer. Há pessoas que têm esta capacidade de nos conduzir por caminhos por onde nunca andámos. Obrigada por tudo aquilo que me fez sentir, a mim e a muitas pessoas que depois falaram comigo e que ficaram admiradas com aquela Adoração fora do comum. Que haja mais, porque até os jovens aprenderam muito naquela noite que podia ter sido prolongada.
    Ter um Prior assim, temos que dar graças a Deus. Quem não foi, nem pode imaginar o quanto perdeu.

    ResponderEliminar
  11. Nunca tinha assistido a uma noite tão magnífica. Possa até ousar em afirmar que esta Noite de oração de segunda feira construiu um novo puzzle na minha vida. Obrigado Prior, foi fabuloso, com a ajuda Divina do Céu !

    ResponderEliminar
  12. Ao ler estes comentários, vejo que não sou só eu que nunca assisti a uma exposição do santíssimo desta maneira. Normalmente o que nós temos é o Senhor exposto no altar e rezamos. Não há dúvida de que, desta maneira que o padre António fez na segunda feira, foi um encontro muito mais valioso com o Senhor, porque o padre António estava lá para nos ajudar a refletir. Gostei muito e gostaria de lhe agradecer também pela noite maravilhosa que tivemos. Obrigado

    ResponderEliminar
  13. Li estes comentários sobre a Noite de Oração de segunda-feira. Estava a ler e a pensar...o quanto eu fui uma felizarda ao longo de anos...e anos. Esta Noite de Oração, em que o Pe.António decidiu fazer dela uma Exposição do Santíssimo com todos os ´pontos´, aqueles ´pontos´ que a maior parte das pessoas nunca assistiu.
    Disse que fui uma felizarda, porque, durante anos, tive o privilégio de assistir, uma vez por mês (à sexta-feira) a Exposições do Santíssimo Sacramento que me enriqueceram, que me ´encheram´de tudo o que há de melhor. Momentos parecidos com este que o Pe.António fêz na segunda-feira. Para mim, quando assisti a esta Exposição do Santíssimo, foi um...reviver de tantos momentos santificados que, por outras paragens me fizeram ´crescer´, me fizeram ser mais de Cristo. Até posso ir mais longe, e dizer que nunca tinha assistido a nenhuma Exposição do Santíssimo sem ser da maneira como o Pe.António fêz na segunda-feira, por outras palavras...só com o Senhor exposto e sem sacerdote para nos encaminhar.
    Com outro padre, havia Exposições do Santíssimo que, no final, fazia com que saíssemos de lá a ´flutuar´. Infelizmente as pessoas não vivem para sempre e...na segunda-feira, foi um reviver do passado: em outro lugar, com outro sacerdote, mas o ´sabor´ foi gratificante, fêz-me lembrar um passado que já não volta, mas que nunca irei esquecer.
    Não conheço (bem como outras pessoas disseram) nenhuma igreja que faça Exposições do Santíssimo como o Pe.António fez. E pode até não ter ideia do quanto nos fez sentir tão bem, numa noite que poderia ter-se prolongado....Sei que não é fácil, mas era tão bom que este momento se repetisse de vez em quando....
    Obrigada Pe.António por aquilo que nos fez sentir, pela riqueza que nos transmitiu.
    R.A.

    ResponderEliminar

Web Analytics