segunda-feira, 16 de julho de 2012

"Ouvi, vós todos..."!


"Ouvi a palavra do Senhor, ó príncipes de Sodoma; escutai a lição do nosso Deus, povo de Gomorra: «De que me serve a mim a multidão das vossas vítimas? diz o SENHOR. Estou farto de holocaustos de carneiros, de gordura de bezerros. Não me agrada o sangue de vitelos, de cordeiros nem de bodes. Quando me viestes prestar culto, quem reclamou de vós semelhantes dons, ao pisardes o meu santuário? Não me ofereçais mais dons inúteis: o incenso é-me abominável; as celebrações lunares, os sábados, as reuniões de culto, as festas e as solenidades são-me insuportáveis. Abomino as vossas celebrações lunares, e as vossas festas; estou cansado delas, não as suporto mais. Quando levantais as vossas mãos, afasto de vós os meus olhos; podeis multiplicar as vossas preces, que Eu não as atendo. É que as vossas mãos estão cheias de sangue. Lavai-vos, purificai-vos, tirai da frente dos meus olhos a malícia das vossas acções. Cessai de fazer o mal, aprendei a fazer o bem; procurai o que é justo, socorrei os oprimidos, fazei justiça aos órfãos, defendei as viúvas".
Escolhi reproduzir toda a primeira leitura da Missa de hoje; escolhi sublinhar uma Palavra que é dirigida ao "Israel" deste tempo, ao Povo de Deus que somos todos e cada um de nós; escolhi esta "advertência" do Alto direccionada ao coração de todos os crentes, escolhi deixar-me provocar, interrogar, questionar, sobre a seriedade da minha fé, da minha religiosidade, do meu ministério, da minha forma de pastorear os meus irmãos que me foram confiados...
Percebo nestas palavras de Isaías uma "mágoa", uma "saturação", um "profundo cansaço" deste "Israel que O louva com os lábios mas O esquece com o coração e com a vida!
Parece um queixume de Deus! Percebe-se um "lacrimejar" divino diante da pobre, fria, hipócrita, oca e vazia religiosidade do Povo que Ele ama e quer salvar!
Queixa-se Deus desse tremendo e clamoroso divórcio em que caímos com demasiada facilidade quando olhamos a fé rezada e a fé vivida! Pede-nos Deus a ousadia e a coragem da verdade e da transparência da nossa fé. Desafia-nos o Senhor à conversão autêntica, real, sincera, a fim de sermos testemunhas credíveis d'Aquilo que Deus é: amor e salvação, verdade e justiça oferecida a cada homem.
Não gosto de "ver" Deus falar assim; não me sossega - talvez nem seja essa a intenção - escutar essas palavras que saem do coração triste de Deus por causa da infidelidade e da superficialidade daqueles que se afirmam crentes e discípulos!
Mas entendo! Percebo a actualidade dessa palavra proclamada há tanto tempo atrás! Aceito essa "indignação" do Senhor ao tentarmos envolve-l'O em nuvens de incenso, em "encanta-l'O" com hinos e salmos melodiosos e, simultaneamente somos este Povo que não cessa de fazer o mal, não ergue as mãos pelo combate pela justiça e pela equidade, não se decide à denúncia dos muitos sistemas opressores e capazes de esmagar depressa a dignidade de homens e mulheres chamados à felicidade e à paz!
Percebo que muitos dos cultos prestados e celebrados por aí sejam abomináveis para Deus, Lhe sejam insuportáveis, quando aqueles não se transfiguram em compromisso com a vida verdadeira de cada outro.
Sim, é verdade que preciso converter o meu culto, as minhas solenidades, em actos de amor, em abraços prolongados, em caridade efectiva, em coração partilhado... porque a alegria de Deus é o Homem vivo!

8 comentários:

  1. Pe, António simplesmente não consigo escrever nada, absolutamente nada, porquê? não sei dizer, talvez porque sinta isso mesmo que refere em todo o paragrafo,"Não gosto de "ver"Deus falar assim...que se afirmam crentes e discípulos!".
    Pe. António acredite que o Seu abraço é prolongado e nos chega todos de uma forma indescritível,com muito calor humano e muito amor,"um coração partilhado".
    Não importa se sou de Carcavelos ou de onde,mas que importa é que Deus me chega pela Sua boca com verdade entrega,como acto de amor,um coração partilhado que tem sempre um cantinho para todos,"Gosto de Si ,preciso de Si",nunca irei esquecer estas palavras.
    Bem haja,um bom dia,beijinho amigo

    ResponderEliminar
  2. A palavra do Senhor é sempre actual! Esta é uma palavra dura que nos interpela e faz pensar.... Também não gosto de "ver" Deus falar assim... mas entendo. Que em cada dia nos deixemos inundar da força do Amor de Deus e do seu Espírito e possamos converter-nos.
    Obrigada Pde António por mais esta reflexão.

    ResponderEliminar
  3. "A alegria de Deus é o Homem vivo"
    Homem vivo, que não se deixa conquistar pelas coisas do mundo ,mas sim o Homem vivo que anuncia,denuncia e tem a Sua vida sempre em Jesus,mesmo que as Suas palavras não sejam aquelas que nosso ouvidos gostavam de ouvir ,mas só a verdade ,o amor nos prepara o caminho da Salvação.
    Bem haja Pe. António pelas Suas Palavras que nos despertam da letargia,do comodismo em que o mundo se propõe a oferecer.

    ResponderEliminar
  4. "Gostava tanto que deixasses de sofrer
    Senhor, só quero ajudar"!

    ResponderEliminar
  5. Diante do que vemos e ouvimos até nas televisões, é bem verdade que precisamos de nos focar no essencial que é Deus e a Sua Palavra. E como nós cristãos estamos tão presos ao mundo, às suas leis e regras. Como a Igreja é tão pouco semente e fermento de um mundo novo. Precisamos de profetas que nos incomodem e nos relembrem sempre aquilo que é o mais importante pois com muita facilidade adormecemos. Ainda bem que há gente que nos acorda para a vida real, da nossa fé.

    ResponderEliminar
  6. A foto, um deserto e como fundo o céu, com uma abertura com uma claridade de fogo a querer romper,como que o ressurgimento de uma alma nova, para que o deserto se transforme num oásis onde a vida surge,a cobertura vegetal,e a água jorre,a água pura que nos sacia,e é assim que por vezes nos sentimos no deserto... mas onde uma ténue luz surge... Jesus nos trás a vida ,o amor ,nos sacia e nos dá força,a força de viver de sermos seus portadores,portadores do amor,da verdade,da entrega,tentando humildemente fazer a Sua Vontade.
    Bem haja Pe. António ,boa tarde.

    ResponderEliminar
  7. É pena que nós Igreja do século XXI tenhamos evoluído tão pouco que estas palavras se nos ajustem ainda... mas é verdade: de que serve o culto se a nossa vida não for exemplo de amor ao próximo, de que serve o ritual - a confissão, a comunhão - se forem apenas gestos ocos? Deus não quer "dons inúteis" mas antes actos de amor.

    ResponderEliminar
  8. obrigado por me recordar a verdadeira missão do cristão! Que Deus me ajude a ser "voz dos sem voz" e ceder o lugar aos "sem vez".

    ResponderEliminar

Web Analytics