quinta-feira, 12 de julho de 2012

"Estado da Nação"

Ontem, na Assembleia da República, debateu-se, de novo, o "Estado da Nação". Momento sempre importante na medida em que se trocam opiniões, se defrontam visões distintas da realidade humana, política e social que todos havemos de construir, se trocam pontos de vista diversos, se confrontam ideais e horizontes múltiplos mediante valores, ideias, convicções...
Pergunto-me por que razão não poderia a Igreja ser protagonista de um espaço como este, onde se transformava num areópago de questões múltiplas a debater, de dúvidas conjuntas a reflectir, de caminhos comuns a trilhar...
Por que razão não poderia a Igreja ter oportunidade de se congregar em torno do Pastor Diocesano, à volta de cada Pároco, para a partilha de ideias, de sonhos, preocupações, desafios, a ponto de todos e cada um dos cristãos se saberem e sentirem responsáveis e cúmplices, protagonistas e conscientes da missão comum de edificar a Igreja e construir o Reino de Deus - afinal a tarefa que o Mestre confiou aos Seus discípulos de todos os tempos...
Sei bem que a Igreja não é uma democracia; porém nada teria a perder - bem pelo contrário - se usufruísse de tempos e espaços de maior diálogo, de alargada troca de experiências, dificuldades, êxitos, projectos...
A Igreja, enquanto Povo de Deus com uma missão bem definida, apenas teria a ganhar se ousasse distinguir categoricamente a realidade da "unidade" daquela outra sempre pejorativa de "conformismo"!
Ainda temos demasiado medo da complementaridade de opiniões e sensibilidades!
Pensamos ainda ser perigoso o diálogo e a partilha aberta de critérios, de pontos de vista, de sentimentos e de sonhos!
Não são raros aqueles que receiam a "anarquia" na Igreja se se abrissem as portas e as janelas à partilha aberta, fecunda e sincera de sensibilidades, de inquietações, de experiências de vida!
São ainda muitos os que defendem que as "normas", o "direito" e as "directrizes superiores" são o único caminho que traduz a verdade da fé e aponta o caminho certeiro para chegar a Deus!
Proliferam ainda os corações e as consciências que preferem que sejam os outros a pensar, a reflectir, a decidir, mesmo que depois se tornem nos primeiros a discordar, a desviar e a menosprezar essas mesmas propostas provenientes de "cima"!
Discutir - no bom e profundo sentido da palavra - o "Estado da Igreja", eis uma proposta que o mundo nos oferece. Uma discussão que não ficasse encerrada nos denominados "Sínodos dos Bispos" (em Outubro realiza-se mais um acerca da Nova Evangelização), mas onde o "todo" das Dioceses, das Paróquias, dos Movimentos, tinham uma "palavra" a partilhar e a defender.
Uma "palavra" real, espontânea, sincera, bem par lá dos denominados contributos que, oficialmente, são chamados a fazer!
O "Estado da Igreja" na Europa, neste nosso Portugal, na nossa Diocese concreta, debatido com verdade e simplicidade, organizado e realizado com a partilha dos talentos e dons de cada um dos cristãos, porque não?!
Há demasiados temas, múltiplas questões, incontáveis realidades, diversificados problemas, que a todos diz respeito e que, em verdadeiro sentido eclesial, poderiam e deveriam ser debatidos, analisados, estudados, rezados, em comum, ou seja, em Comunidade, em Igreja, que dizemos ser!
As nomeações dos Párocos, as Direcções dos Centros Paroquiais, a eficácia ou ineficácia dos "obrigatórios" Conselhos Económicos e Conselhos Pastorais, as questões inadiáveis das pobrezas tantas que assolam os homens nossos irmãos, as "apostas" e caminhos derradeiros que a Igreja deste tempo deveria escolher como concretização eficaz da sua missão, a fraternidade e equidade que deveria pautar a realidade entre as Comunidades cristãs em vez das indiferenças que as norteiam, etc., etc,...
O Espírito Santo não envelhece, não perde capacidades, não "passa de moda"! Ele continua "disposto" a fazer a Igreja a perder medos e a ultrapassar preconceitos; Ele permanece decidido a ser invocado e a descer sobre quantos sabem e crêem que a vida da Igreja não depende do "politicamente" ou do "religiosamente" correcto, das ideias pessoais e decisivas, dogmáticas e inalteráveis de uns quantos iluminados!
A Igreja, unida à volta do Sucessor de Pedro, em comunhão com os Sucessores dos Apóstolos, pode ir bem mais longe e mais alto no que respeita à tarefa da unidade, da comunhão, do respeito pelas diferenças, no abraçar a misericórdia mais que a construção de muralhas e barreiras que separam os homens entre si e estes do próprio Deus!
O "Ano da Fé" que se avizinha bem poderia ser uma oportunidade de rezar, como fecunda e harmoniosa melodia: "Mandai, Senhor, o Vosso Espírito, e renovai a terra e a Igreja"...

8 comentários:

  1. Prior

    É sempre uma alegria imensa descobrir que temos mais uma reflexão que nos poderá ajudar a fazer caminho com mais lucidez.
    E num curto espaço de tempo brindou-nos com reflexões riquíssimas.
    Este texto, é na verdade, um apelo, um desafio que bem poderia ser aceite para que a Igreja vive- se em maior comunhão.
    Só alguém que vive verdadeiramente o seu ministério sacerdotal tem uma tal clareza de pensamento. Pode ser "tão à frente".
    Louvado seja Deus, por ser como é!
    Louvada seja Deus, por nos ajudar a viver a Fé com autênticidade, liberta de preconceitos e amarras.

    Que Deus o abençõe, sempre!

    JR

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  2. Uma "partilha aberta, fecunda e sincera", que se deixe guiar pelo Espírito Santo, é caminho para o crescimento de uma verdadeira comunidade.
    Muito bom, Pe. António! Obrigada...
    Rezo...

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  3. Padre António
    Simplesmente obrigada por este partilhar,pela coragem,pela luta,pelo amor que corre em Si e não o deixa acomodar-se com as situações.
    É esta a visão de muitos Paroquianos ,uma Igreja aberta ,que não se reduzisse ás suas paredes por vezes demasiado fechadas entre todos,mas sim uma Igreja onde houvesse uma partilha de ideias,porque Deus é só um e se todos se unissem em volta do Sucessor de Pedro,e iluminados pelo Espírito Santo, referindo as suas realidades que por vezes são tão diferentes de Paróquia para Paróquia e depois cada «Pastor» as pudesse pôr em prática com todo o amor e sem amarras,apenas com um fio invisível que nos mantém unidos entre todos ao caminho de Deus.
    Com muita fé,muita oração, vamos pedir ao Senhor que Vos ilumine a todos, e que conduzidos pelo Espírito Santo chegue até nós uma Igreja renovada.
    Pe. António,bem-haja.
    É pela SUA entrega sincera,pela luta do essencial, que é Cristo,que nos faz procurar ser melhores e desejar sermos todos de Deus,e nas ocasiões mais difíceis da nossa vida, Suas palavras surgirem em nossa mente e tudo mudar em nossa atitude,fazendo-nos olhar o irmão esquecendo-nos de nós.

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  4. Que ótima ideia para o "Ano da Fé" e que bela proposta para o "povo de Deus" que integra a comunidade de Carcavelos.
    Desejo, de todo o coração, que o Espírito Santo o ilumine para concretizar algumas das ideias que avança e que são de uma pertinência "tremenda"!(como costuma dizer!)
    Sabemos que "uma andorinha não faz a primavera" mas eu acho que vai ter um "bando" disposto a ajudar. Mesmo que se trate de ações localizadas, é preciso é começar.
    É preciso romper com a indiferença, arriscar a pensar, em conjunto, desbravar preconceitos e abandonar a atitude (cómoda) acrítica face às posturas dogmáticas de uns tantos iluminados, como refere.
    Força! Não desista.
    Um abraço de encorajamento
    LF

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  5. Desabafo muito bem ponderado, real, e com um quê muito profundo de verdade. Mas será que os homens querem ouvir as verdades ? Será que já saímos da censura e podemos falar livremente ? Isto tudo que acabo de lêr é lindo, é realmente o que a Igreja deveria fazer, deveria ser. Mas...pergunto: seria possível ? Desculpem a minha franqueza, mas por vezes interrogo-me (e isto deve ser um defeito de profissão) se a igreja, os membros da igreja conseguiriam pôr isto em prática, pôr isto em cima da mesa. É o próprio Pe. António que afirma:
    “...Ainda temos demasiado medo da complementaridade de opiniões e sensibilidades!
    Pensamos ainda ser perigoso o diálogo e a partilha aberta de critérios, de pontos de vista, de sentimentos e de sonhos!..”
    E temos medo, e temos vergonha. Temos medo de...(por exemplo) dizer que não rezamos o terço todos os dias....que não rezamos todas as noites um Pai Nosso e uma Avé Maria...temos medo de nos irmos confessar e dizer as verdades ao sacerdote...temos medo, pensamos que não ficaria bem dizer a verdade, temos medo (se calhar) de dizer que não entendemos muita coisa da Bíblia, não ficaria bem dizermos realmente o que vai mal na igreja, no Patriarcado, no Vaticano. Somos (todos) uns inconstantes. Como seria bom se houvesse conferências de desabafos, mas desabafos sinceros, de gente que consegue abrir o coração, que consegue dizer que o importante na Igreja é Cristo, é por Ele que vamos à Igreja, é por Ele que rezamos, é por Ele que nos ajoelhamos diante do Sacrário...é com Ele e por Ele que estamos cá nesta peregrinação na terra.
    Mas, graças a Deus que o Espírito Santo não envelhece, graças a Deus que há padres que fazem mais do que...o celebrar de uma missa, o confessar...o benzer uma imagem...Nós, criaturas de Deus ´exigimos´ mais de um padre. É por isso que eu gosto desta certeza do Pe. António:
    “...O Espírito Santo não envelhece, não perde capacidades, não "passa de moda"! Ele continua "disposto" a fazer com que a Igreja perca os medos e ultrapasse todos os preconceitos....”
    Ele..Ele...e Ele, mas e...nós conseguimos deixar que o Espírito Santo habite em nós, invada os nossos corações e a nossa alma, e nos segrede baixinho...?
    Olhemos mais uma vez para esta frase e digamos com fé, com força, com convicção:
    "Mandai, Senhor, o Vosso Espírito, e renovai a terra e a Igreja"...

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  6. Também considero uma excelente ideia, uma sugestão que deviamos seguir! a Igreja só teria benefícios desta reflexão colectiva, para que cada um de nós se sentisse responsável pelas decisões e não pudesse apontar o dedo aos outros...

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  7. Padre António
    Tudo na vida tem uma razão para acontecer.
    No dia 7 julho foi recordado com mais intensidade
    "Vós me chamastes para servir os Vossos discípulos.Não sei porque razão me escolhestes:Só Vós o sabeis".
    Na verdade, quando SEU olhar se cruzou com um Homem todo vestido de branco, e se perdeu no Seu olhar é porque tinha muito para dar,para fazer,e seguir e este partilhar é a prova disso mesmo. Força Padre António,a maré está alta mas com Jesus não à ventos que prevaleçam e vençam.

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  8. A fé em Deus nos faz crer
    no incrível,ver o
    invisível e a realizar
    o impossível.
    A fé dá-nos força,confiança e
    onde existe fé à Esperança

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