quarta-feira, 23 de maio de 2012

"Iguais... mas diferentes"

"Os cristãos não se distinguem dos demais homens, nem pela terra, nem pela língua, nem pelos costumes.
Nem, em parte alguma, habitam cidades peculiares, nem usam alguma língua distinta, nem vivem uma vida de natureza singular.
Nem uma doutrina desta natureza deve a sua descoberta à invenção ou conjectura de homens de espírito irrequieto, nem defendem, como alguns, uma doutrina humana.
Habitando cidades Gregas e Bárbaras, conforme coube em sorte a cada um, e seguindo os usos e costumes das regiões, no vestuário, no regime alimentar e no resto da vida, revelam unanimemente uma maravilhosa e paradoxal constituição no seu regime de vida político-social.
Habitam pátrias próprias, mas como peregrinos: participam de tudo, como cidadãos, e tudo sofrem como estrangeiros. Toda a terra estrangeira é para eles uma pátria e toda a pátria uma terra estrangeira.
Casam como todos e geram filhos, mas não abandonam à violência os neonatos.
Servem-se da mesma mesa, mas não do mesmo leito.
 Encontram-se na carne, mas não vivem segundo a carne.
Moram na terra e são regidos pelo céu.
Obedecem às leis estabelecidas e superam as leis com as próprias vidas.
Amam todos e por todos são perseguidos.
Não são reconhecidos, mas são condenados à morte; são condenados à morte e ganham a vida.
São pobres, mas enriquecem muita gente; de tudo carecem, mas em tudo abundam.
São desonrados, e nas desonras são glorificados; injuriados, são também justificados.
Insultados, bendizem; ultrajados, prestam as devidas honras.
Fazendo o bem, são punidos como maus; fustigados, alegram-se, como se recebessem a vida.
São hostilizados pelos Judeus como estrangeiros; são perseguidos pelos Gregos,
e os que os odeiam não sabem dizer a causa do ódio".

Um texto do século I do Cristianismo que define muitíssimo bem a dignidade e a beleza, a profundidade e a diferença daqueles que se dizem de Jesus de Nazaré.
Palavras assertivas, simples, directas e objectivas, que revelam uma opção de vida, uma escolha de comportamentos, um estilo de existência que irrompe naqueles que se deixam atrair pelo Evangelho do Reino de Deus que incarna definitivamente em Jesus Cristo.
Num dia em que a Palavra de Deus nos lembra e relembra que estamos no mundo mas não somos do mundo, eis o "segredo", a "explicitação", a "tradução" dessas palavras de Jesus dirigidas ao Pai e "guardadas" pelo evangelista para que "atravesse" os séculos e milénios e nos encante sempre mais pela nossa ousadia da fé transfigurada em vida real e concreta.
Quando nos questionamos tantas vezes sobre como ser de Deus, como viver a santidade, como permanecer fiel a Jesus Cristo, esta "Carta a Diogneto" escrita nos primórdios da fé da Igreja é - poderá ser - uma "pista" de ouro a quantos, de verdade, buscam a incarnação do Evangelho na vida quotidiana.
Na verdade, Deus não nos pede "milagres" estrondosos ou "estrambólicos"; o Senhor pede a aventura da fidelidade ao Amor, esse Mandamento Novo que aceite como caminho, verdade e vida da nossa vida nos transfigura em apóstolos e discípulos de cada tempo...
Nesta "hora" da história da Igreja, nesta urgência da "nova evangelização", porque não assumir e acreditar que esta "Carta" é endereçada a cada um de nós e é poderoso apelo e desafio a uma renovação da fé, ao renovado ardor que nos falta, à sensibilidade interior que teima em não nos conquistar bem pior dentro?!
É simplesmente uma "pista" que relembro e busco seja "consciência" do meu peregrinar; é simplesmente uma "Carta" que dirijo ao teu coração peregrino...

10 comentários:

  1. "Iguais...mas diferentes"
    Somos todos iguais e todos diferentes,em tudo na fisionomia,no pensar,em tudo...Deus fez o ser humano perfeito,nós é que estragamos tudo pensando que o mundo é bom, é nosso,mas que triste ilusão, nós não temos morada permanente,nada nos pertence do que este mundo tem,somos apenas peregrinos.
    Eu tenho consciência do meu peregrinar,eu sinto que não sou deste mundo, e que apenas vim para servir,e me esquecer de mim,é difícil de explicar,mas está e sinto no meu coração,eu estou bem se os outros estiverem bem,sinto-me muito feliz por tudo o que faço.
    Deus mostra-nos e põe-nos no caminho tanta coisa,tanta gente que se cruza connosco,que nos deixam a Sua Sabedoria,nós por vezes é que não as queremos ver.
    Pe.António bem haja

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  2. é uma "carta" que me aponta o caminho certo, que me consola quando me sinto incompreendida pelos outros, que me relembra a importância de fazer o bem...
    obrigada por esta "pista", que de "simplesmente" não tem nada, é essencial para que o me "coração peregrino" não desanime!

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  3. "Estar no mundo sem ser do mundo..." ! É hoje o convite que o Senhor me faz. Algo que Ele me pede para viver, diariamente, e esforço-me sentindo, a maior parte das vezes, como me é difícil consegui-lo...
    Este texto lindissimo é uma grande achega para nos ajudar a viver o que o Senhor nos propõe e nostra-nos, na verdade, como tudo é bem mais fácil e simples... Bem Haja Pde António pela "pista" aqui deixada

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  4. "O meu coração peregrino"
    Coração,vida,que eu à muito tempo consegui sentir, que recebi o mundo como herança e como tal eu tenho que o deixar de herança também,portanto não é meu,mas me «pertence»,de tudo me posso servir,tudo está à minha disposição,mas nem tudo me interessa,nem quero usufruir,quero o meu coração livre,peregrino,para amar,amar até doer,sempre pedindo para não me afastar de Deus.
    Quero sentir amanhã mais que hoje toda a emoção,amor quando começo o meu dia, emocionar-me porque sinto de alguém um bom dia caloroso,porque uma criança corre para os meus braços,porque ajudo alguém,quando ouço a Palavra de Deus e não consigo evitar que as lágrimas me corram,e sobretudo pensar no fim do dia que tudo foi feito,porque estava dentro de mim,simplesmente porque não consigo ser de outro modo.

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  5. A nossa fé,o nosso amor a Deus diz-nos para não julgar,mas muitas vezes é muito difícil não o fazer,porque o mundo em que vivemos, a sociedade só pensa no seu bem estar,no subir mais um degrau não para Deus,mas sim um degrau de evidência,da palmadinha nas costas,do sorriso e nunca o do amor,da dádiva,da entrega até à exaustão.
    Padre António seja sempre assim,faz toda a diferença..."Igual...mas diferente",a cruz é pesada,mas Deus está lá, e só ELE importa.
    Jesus hoje no Evangelho pergunta a Pedro:Tu amas-me? apesar de saber toda a Sua fragilidade, ELE queria sentir a resposta vinda do interior do Seu coração,que é a que importa ,o amor.
    Pe António eu sei que a Sua resposta seria, e é sempre com a alma,vida, e coração,Sim Senhor eu amo-te,porque a Sua entrega é grande,a força de lutar para nos levar até Deus é...não tenho palavras,todas são poucas...
    Bem haja

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  6. Como nós poderiamos ser uns seguidores desta magnífica carta, que nos mostra onde e como está o verdadeiro homem que evangeliza, o verdadeiro homem que acredita, que acredita mesmo. Conheci e conheço muita gente, lidei e lido com católicos (os que se dizem praticantes e os que se intitulam de católicos não praticantes...como se isto fosse possível !”), vivo e convivo com gente que bate com a mão no peito, conheço gente que verdadeiramente é um exemplo de verdadeiros cristãos, convivo com pessoas que têm medo de falar, têm medo de dizer o que pensar, principalmente aos padres. Ainda conheço gente que não aceita que se ´tire uma vírgula´ na evangelização dos mais novos, porque acham que tudo é perfeito...Encontro gente pelo meu caminho que merece o meu carinho, mas também encontro quem merece o meu desprezo. Aprendi que não se pode desprezar ninguém. Os erros e as injustiças ficam para quem as pratica. Hoje, neste século em que vivemos, andamos a ´correr´ e, quando damos por nós, dizemos que o tempo voou. Nós nem demos por ele: o tempo controlou-nos. O que fizémos nos intervalos ? Se calhar....muito pouco.
    E dizia o Padre António neste último pensamento:
    “Nesta "hora" da história da Igreja, nesta urgência da "nova evangelização", porque não assumir e acreditar que esta "Carta" é endereçada a cada um de nós e é poderoso apelo e desafio a uma renovação da fé, ao renovado ardor que nos falta, à sensibilidade interior que teima em não nos conquistar...”
    Esta carta é endereçada a cada um de nós, hoje e ontem, e será também num amanhã. O problema é se ficamos a olhar para a Carta e não encontramos o nosso caminho nela....
    Eu tive a sorte, e posso dizer sorte (embora não acredite nela) de encontrar pessoas no meu caminho que me transformaram, que me moldaram, que nunca levantaram o tom de voz, mas que me disseram que eu estava errada e que iria sempre errar, mas que iria tentar errar cada vez menos, iria tentar dar um passo pequenino em cada dia, para poder um dia dizer que o meu caminho foi muito bem ´desenhado´. Tive alguém que eu tenho que louvar com letra grande e que me ensinou muito do que eu sou, e se eu sou, devo a essa pessoa, devo à sua intercessão perante os Céus. Olho e vejo o quanto aprendi e o quanto deixei que me fosse ensinado.
    Hoje vivo na terra e olho p´ro Céu com muito carinho, encontro-me na minha condição e dentro desta carne humana, mas tento não viver muito perante essa ´carne´ e mais perante a mente, perante o muito que aprendi e que me foi deixado como herança, uma herença que foi tão rica, que nunca poderei receber mais ou igual.
    Gostei que esta Carta fosse publicada pe. António, gostei da sua interpretação perante ela e adorei este Cristo que parece que voa num tempo sem fim, onde nós podemos também voar, mas com os pés bem assentes na terra, para que depois de nós venha alguém que consiga ter aprendido alguma coisa e que consiga seguir a cruz, acreditar na cruz e bendizer a cruz.
    A nossa fé não pode ter limites. O nosso amor a Deus não pode ter limites. Tudo tem de crescer mais e mais, para que possamos sentir o nosso coração cada vez mais rico.
    Obrigada por esta partilha. Não imagina o quanto nos faz crescer com os seus pensamentos....

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  7. "São pobres,mas enriquecem muita gente,de tudo carecem mas em tudo abundam"

    Nós temos a ideia de medir tudo pelo dinheiro,mas esse é o que menos importa,é aquele que primeiro deixamos, que menos conta,apenas importa o que nos enche a alma,onde nada se tem ,mas tem-se tudo,amor,compreensão,um conforto,uma palavra,um sorriso,um abraço sincero e também uma partilha,porque o pouco partilhado é muito,porque quem tem pouco não consegue ver o que não tem nada sem repartir.
    Por isso se pode enriquecer muita gente de muitas formas e abundar do mais importante o amor,onde uma pessoa é acolhido e recebido.
    Quantos tem tudo e não tem nada,existindo sempre uma sede insaciável de mais e mais ,esquecendo valores,os outros que passam bem junto de nós e nem um olhar.
    Mas também sinto e admiro outros,e se põe ao serviço dos outro como igual,não se fazendo sentir a diferença,é uma lição de vida.
    Deus dá-nos tantos caminhos...a opção é que nem sempre é a mais acertada.

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  8. Fundo do blogue,bonito,inspirador como sempre e talvez com algo que eu estava a precisar de uma luz de um farol que me ilumine o caminho,a alma,sentir um pouco do calor,da presença de Deus,senti-me triste, ao acabar de ler um livro de um autor tão conceituado,(foi-me oferecido) não ser realmente aquilo que se espera! mas nada abala a minha fé entrega e fiquei feliz por sentir que na realidade a fé ,o amor a Cristo é muito mais profunda que o livro,foi uma prova superada,só quero esquecer...
    Ao abrir o blogue pareceu-me que Deus me estava a indicar a verdade,o caminho e a Luz,nada me faz mudar já senti muitas,muitas vezes o amor de Deus em minha vida,e o meu coração e vida está com Jesus.
    Padre António,obrigada por me mostrar o amor de Cristo.

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  9. Quando existe a saudade,sentimentos profundos, Deus está em nós e no que realizo,sinto muito a Sua falta Pe. António, muito mesmo,mas digo-LHE que estou feliz cada vez que entro a porta da Igreja e a vejo cheia de gente,de jovens ,tudo numa Comunidade numa alegria e aí eu tento não pensar na ausência com tanta tristeza apesar de não ser fácil,se não fosse com este partilhar nos trazer Jesus de uma forma a nos fazer meditar com muito amor e verdade,seria mais difícil ainda.Obrigada por estar aqui, apesar de todo o trabalho,que sei que é muito para levar tudo a bom termo.
    Boa noite um beijo amigo

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