terça-feira, 17 de maio de 2011

"Sabedoria..."

"Eu fui devagarinho
Com medo de falhar

Não fosse esse o caminho certo
Para te encontrar
Fui descobrindo devagar
Cada sorriso teu
Fui aprendendo a procurar
Por entre sonhos meus

Eu fui assim chegando
Sem entender porquê
Já foram tantas vezes tantas
Assim como esta vez
Mas é mais fundo o teu olhar
Mais do que eu sei dizer
É um abrigo pra voltar
Ou um mar para me perder

Lá fora o vento
Nem sempre sabe a liberdade
A gente finge
Mas sabe o que não é verdade
Foge ao vazio
Enquanto brinda, dança e salta


Eu fui entrando pouco a pouco
Abri a porta e vi
Que havia lume aceso
E um lugar pra mim...".

Palavras belas e sãs que nos falam da nobre e insubstitível arte do coração; letras juntas que nos oferecem um hino glorioso à beleza das relações, quando assentes na pureza do coração, na transparência da alma, na abertura solene e sincera do «eu» que somos verdadeiramente...
Devagarinho, num respeito totalizante pela diferença que é cada outro; para conseguir descobrir a alegria de um sorriso que brota espontaneamente, sem defesas, «sem muralhas à volta do peito»; devagarinho, para aprender a saborear a alteridade de quem temos diante de nós, para vivenciar com gozo a bondade e beleza, a dor e a mágoa, os sonhos e esperanças, alojados em cada coração...
E quão bem sabe entender e sentir que, na frontalidade e verdade dos corações, das palavras e dos gestos, mesmo quando inicialmente nos parecem barreiras intransponíveis, mesmo que nos outros corações hajam já conceitos e preconceitos sem razão nem lógica, quão bem sabe entender e sentir que, abertas as portas, «há lume aceso e um lugar p'ra mim».

"Lá fora o vento
Nem sempre sabe a liberdade
A gente finge
Mas sabe o que não é verdade
Foge ao vazio
Enquanto brinda, dança e salta..."!

Com que assiduidade e banalidade assim acontece no encontro dos corações! A gente finge, mas sabe que não é verdade, aquele sorriso, aquela palavra, aquele sentimento, aquela presença, aquele afago, aquele aplauso, aquele...!
Podemos até brindar, dançar e saltar, mas, sem verdade e autenticidade, essa «festa» será sempre em palcos destorcidos e tortos, condenados à queda mais dura da nossa condição humana: a desilusão! Enquanto teimarmos em fingir que gostamos, que amamos, estamos a ameaçar este «tabernáculo» maior que possuímos: o coração!
Enquanto ousarmos fingir ser, isto é parecer, mais que ser verdadeiramente, ser-nos-á muito difícil encontrar «lume aceso e lugar p'ra mim» na vida de cada outro!
Porém, quando, devagarinho, vamos sendo nós mesmos, com defeitos e pecados, quando, devagarinho, nos vamos revelando séria e profundamente, percebemos e encontramos sempre, mas sempre, uma alma a desabrochar, um coração, às vezes ferido e magoado, sangrado e desconfiado, a erguerem as forças e a agarrar a esperança de que nem tudo, nem todos, vivem a fingir, numa dança louca de falsidades e mentiras, mas, ao contrário, pisam forte na vida, calcam palcos de verdade e de exigência, de justiça e de amizade, de presença e de amor.
Sim, pode demorar tempo; há que aceitar ir «devagarinho» ao encontro dos corações. Sempre em verdade, sempre em paz, sempre abertos à diferença e à lágrima do outro, a fim de percebermos que podemos ser «fogo», ser «lume» que aquece e se deixa aquecer. Porque não há neste mundo ninguém tão rico que não possa ou precise receber alguma coisa nem ninguém tão pobre que não tenha nada para oferecer e partilhar...
A sabedoria do coração. Não há outra para peregrinar na vida...

7 comentários:

  1. Quanta verdade e sabedoria nestas palavras. Como seriam distintas as relações humanas, no mundo e na Igreja, se conseguíssemos, «devagarinho» avançar por esse caminho que nos é proposto...
    Mas há que tentar. Há que sonhar. E que bom que alguém nos relembra a cada instante que «o sonho comanda a vida».

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  2. Coração transparente, verdadeiro... tão ao jeito de Jesus: «há lume aceso e um lugar p'ra mim».
    Subindo: porque quero ser «fogo», ser «lume» que aquece e se deixa aquecer.
    "Dá-nos um coração grande para amar!"...

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  3. Padre António
    Finalmente aqui estou a ler este maravilhoso partilhar, com um aperto no coração e com sentimentos antagónicos de tristeza e de alegria e essencialmente de Louvor a Cristo por não me ter levado alguém que me é tão querido,que nasceu de mim.
    «Há sempre um lume aceso e lugar para Si »no meu coração,e para quem de mim precise .

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  4. Todo o partilhar nos fala de um amor ,amor sereno conquistado com "Sabedoria"num aproximar lento, indo ao encontro do outro, destruindo barreiras de um coração diferente, sim que ser diferente não é ser menos,ainda é melhor porque existe um aproximar de duas vivências diferentes, mas ricas e com amor mais forte.
    Quando se misturam sentimentos profundos, onde o coração fala mais alto, onde podemos ser «fogo»,ser «lume» com parte material,não à "Sabedoria" ,não à coração nenhum, que seja «lume » só Deus,por vezes as certezas que nos apontam são tão grandes,que duvidamos de nós.

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  5. Padre António
    Transporta-nos a tudo aquilo que nossos corações anseiam, o ser acolhidos num ambiente de amor, verdade e respeito mútuo,onde sentíamos que há lume aceso e lugar para nós e isso só um coração puro bondoso,que age por instinto e com toda "Sabedoria" , foi esse o meu mundo, e agora? será que posso fazer o que o meu coração diz?será que meus sentimentos podem brotar e ser «fogo e lume» ,penso que não...um dia arde ...no outro dia chove ...apaga-se...e nós não conseguimos dar, nem partilhar algumas coisas,mas vamos nos habituando,a fazer o bem sós,temerosos mas,não desistindo de lançar cada dia mais um pouco de lume,para que todo «eu«se apague e vá surgindo o «tu».

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  6. Senhor Jesus "eu fui assim chegando
    sem entender porquê
    Tantas e tantas vezes
    Assim como esta vez
    Mas é mais fundo o Teu olhar
    mais do que eu sei dizer
    É um abrigo para voltar.Só em Ti encontro a Paz
    Bem haja ,obrigado
    Padre António

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  7. "Sabedoria "
    Só assim simplesmente (foto)com o coração na mão se pode chegar ao nosso irmão, desarmando-os com as armas do amor e ir acendendo o «lume «que aquece os corações com a dádiva de nós próprios em prol do outro, é como eu me revejo,mas por vezes não é fácil...

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