segunda-feira, 23 de maio de 2011

"Por um bem maior"

"Este Estoril que Deus tanto ama..."
"Talvez pudesse o tempo parar
Quando tudo em nós se precipita

Quando a vida nos desgarra os sentidos
E não espera, ai quem dera

Houvesse um canto pra se ficar
Longe da guerra feroz que nos domina
Se o amor fosse um lugar a salvo
Sem medos, sem fragilidade

Tão bom pudesse o tempo parar
E voltar-se a preencher o vazio
É tão duro aprender que na vida
Nada se repete, nada se promete
E é tudo tão fugaz e tão breve


Tão bom pudesse o tempo parar
E encharcar-me de azul e de longe
Acalmar a raiva aflita da vertigem
Sentir o teu braço e poder ficar

É tudo tão fugaz e tão breve
Como os reflexos da lua no rio
Tudo aquilo que se agarra já fugiu
É tudo tão fugaz e tão breve".


Se eu soubesse cantar, por um bem maior, gritaria com todas as minhas forças as palavras desta canção chamada de «fragilidade».
De facto, e de novo, experimento esta sensação de tudo ser «tão fugaz e tão breve»...
Na verdade, «como os reflexos da lua no rio, tudo aquilo que se agarra já fugiu»...
«É tão duro aprender que na vida, nada se repete, nada se promete e é tudo tão fugaz e tão breve»...
Palavras sábias que falam de vida vivida em verdade, em autenticidade, nessa tão simples mas demasiadas vezes esquecida condição e verdade de que somos sempre e tão somente peregrinos.
E quando somos discípulos de Jesus Cristo mais ainda temos de «gravar» bem no fundo da alma que nada nos pertence, nada permanece, nada se segura, nada se amontoa, que se perpetue a não ser a intimidade e a comunhão com o Senhor.
Por um bem maior, o serviço à Igreja, olho, interpreto, sinto e aceito esta mudança de paróquia; por um bem maior, entrego ansiedades, dúvidas, lágrimas, porquês, mentiras, interpretações erróneas; por um bem maior, a Igreja que eu amo, ofereço todos os abraços recebidos, todo o carinho acolhido, todo o amor que me foi entregue, toda a cumplicidade que comigo foi vivida...

"Talvez pudesse o tempo parar
Quando tudo em nós de precipita
Quando a vida nos desgarra os sentidos
E não espera, ai quem dera

Houvesse um canto pra se ficar
Longe da guerra feroz que nos domina
Se o amor fosse um lugar a salvo
Sem medos, sem fragilidade"

Humanamente apetece dizer isso mesmo: «talvez pudesse o tempo parar..."! Para que nada em nós se precipite, nada em nós nos magoe, nada em nós nos acuse... E longe da guerra feroz que me domina interiormente, encontre no amor à Igreja, nesse bem maior, aquele lugar a salvo, sem medos nem fragilidades que me façam duvidar e retroceder num caminho já andado, numa entrega já oferecida, numa vida já vivida.
Por um bem maior, para que eu dininua e Ele cresça na Igreja que tanto amo, parto! Com um coração carregado de gratidão pelo tudo, pelo tanto, que neste Estoril recebi e dei, simplesmente. Parto, cheio de saudades de gente sã e boa que Deus fez cruzar no meu caminho; parto com a certeza que aceito e perdoo as maldades e incompreensões, a mentiras e calúnias, os boatos e  maledicências com que alguns me presentearam porque ainda «velhos do Restelo», porque ainda «idólatras de si mesmos», porque ainda buscadores de prestígios, de honras e glórias que acreditam ser a causa das suas vidas! Creio e rezo para que um dia encontrem a paz. Leigos ou padres, cristãos que são todos, creio e rezo para que o mal que lançaram no caminho de quem apenas queria ser de Deus amando a Igreja, se transfigure em semente de conversão e em serenidade dos seus próprios corações.
Por um bem maior, saibamos todos aceitar a incerteza do amanhã e o desconforto de quem não conhece o caminho! Por um bem maior, a Igreja, queiramos todos olhar a obediência de Cristo que nos revela a verdade maior da vida. Por um bem maior, o amor à Igreja, ousemos remar, sempre mais, para que cheguemos todos à outra margem... a da santidade, conseguida unicamente na imitação de Cristo.
Sim, «talvez pudesse o tempo parar»! Mas pararia também esse objectivo de vida que nos há-de guiar sempre: por um bem maior: a Igreja.
E, "encharcado de azul e de longe" teimar num «hino» que me dá sentido há quase vinte anos: "Eu venho, Senhor, para fazer a Vossa vontade»; eu vou, Senhor, para fazer a vossa vontade...

15 comentários:

  1. Padre António eu não consigo acabar de ler,escrever e nem posso acreditar que nos vai deixar as minhas lágrimas correm e não consigo mesmo me desculpe...
    Mais tarde.
    Bem haja

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  2. E nós só temos de agradecer a Deus por si,:)
    pela Comunidade que criou, pelo Amor que espalhou, por nos ter mostrado Jesus. E fica-nos a responsabilidade de continuar essa riqueza que deixa em nós e o dever de continuar a ser sinal do Amor de Jesus para tantos que não O conhecem - sem saber o que nos espera, como o Pe António...
    Tornou a nossa vida mais fácil durante estes poucos anos... agora, ficamos com a Missão de não perder o Caminho que nos apontou.
    E durante este tempo que nos resta com o nosso Pastor, vamos aproveitar ao máximo e rezar todos juntos muitas vezes para que o Espírito Santo faça morada em nós e não permita que depois nos desviemos, como as ovelhas quando não sabem do Pastor...
    Vou ter imensas saudades mas o que é que isso interessa se vai continuar a espalhar o Reino de Deus? :)
    beijinhos e abracinhos

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  3. Padre António
    Damos graças a Deus e oramos por ti, para que continues sempre a ser um apaixonado anunciador do Amor do Pai.
    Como orava Santo Inácio:
    Tomai Senhor e recebei, toda a minha liberdade, a minha memória o meu entendimento, toda a minha vontade e tudo o que possuo, tudo é Vosso a Vós o restituo.
    Obrigado por teres sido nosso pastor, vamos sentir a tua falta.
    PAZ

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  4. "Talvez pudesse o tempo parar!" Mas se parasse de facto não aconteceria na vida de cada um de nós a beleza do encontro sempre novo... talvez ate nem nunca nos tivéssemos cruzado, amado, admirado... talvez nunca tivesse tido a graça de um Pai (Papuxo... enfim, tantas e tantas coisas, recordações, amizade, ombros amigos...
    Porque te amamos muito e te admiramos, continuaremos eternamente a percorrer contigo este caminho... nem sempre direito, mas com a Beleza que lhe impões... como diz a canção "por esta estrada fora... por essas mão abertas nas horas em que precisei de alguém(...) quero-te agradecer..."
    Eu por ti...
    O teu caminho será certamente fascinante, brilhante... continua sempre o Santo entusiasmo próprio de quem AMA a Igreja... e Obrigado SEMPRE pelo teu testemunho de desprendimento...
    sempre contigo... sempre!

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  5. Padre António
    Sinto-me muito triste meu coração estava mais para escrever no "Fragilidades" que aqui .
    Sr. Prior, lembra-se daquela partilha "Gente",linda não é?Há tanta gente que se cruza connosco e não nos dizem nada e outras que nos marcam para todo o sempre e pode acreditar que estará sempre em meu coração,me marcou pela Sua entrega pelo o amor a Cristo que transparece em Seu olhar,Sua vida,dedicação,de nos mostrar Jesus Cristo com tanta fé e ardor,pela Sua entrega ao limite, a vida é injusta ao mostrar-nos o avesso das coisas,das pessoas
    E os jovens?como estão aqueles corações ao perderem o Seu «Pastor» em quem confiam.
    Padre António
    Deus estará sempre em Sua vida e isso ninguém Lhe pode tirar ,invejas,intrigas, poderes,mesquinhices,para quê? o nosso único e verdadeiro fim, é o caminho do Amor do nosso PAI que está no Céu e aí sim há o prémio face a face com Deus.
    Bem haja,por tudo um resto de um bom dia.

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  6. Obrigada» não chega, nem é a palavra certa... Porque não há palavras que exprimam o bem que fez à paróquia do Estoril, o amor que por ela derramou, durante estes 5 anos. Parte "por um bem maior"; parte porque não tem aqui (nem noutro lugar) "morada permanente". De novo, é enviado, porque outra paróquia precisa de si, do seu ministério; precisa da sua radicalidade, da sua frontalidade; precisa da sua entrega apaixonada, do seu serviço sem descanso. E aceita-o, sem duvidar, para fazer a Sua vontade. Parte o prior, mas fica o amigo, sempre, no coração e na oração!
    Saibamos merecer o tanto, tanto que nos deu; saibamos continuar o caminho que nos foi/vai indicando.
    Um grande beijo, Aninhas

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  7. Vi-o partir de Arroios e a saudade que deixou. Sei que vai deixar saudades aí no Estoril. Mas Deus assim quis e temos de aceitar, como ovelhas do seu rebanho.

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  8. Querido Prior, exitei em partilhar o que sinto ao ler o seu texto e ao ler os comentários feitos porque achei que não sendo paroquiana não devia " estar a meter- me". Mas não resisti e não posso deixar de sublinhar o que alguém já disse, o seu testemunho de despojamento, de desprendimento. " Por um Bem Maior" dá a vida, sofre. Sei que parte com o coração a sangrar por todos os que consigo quiseram caminhar. E com a graça de Deus também são muitos os que sentem e dão valor ao Pastor que nestes cinco anos os conduziu com Paixão, Amor , Verdade, Entrega Total, Exigência que faz crescer. Por Cristo e pela Sua Igreja vai até onde tem que ir.
    Eu e tantos outros já sentimos o que os seus paroquianos estão a sentir, uma saudade imensa ainda antes de ir, uma dor no coração. Vi- o sair do Algueirão, como doeu! Acompanhei a sua saída em Arroios, como vi gente tão sofrida com a sua partida! E agora acompanho-vos, a vós com a minha solidariedade. Mas os verdadeiros Amigos nunca se perdem ficam para sempre. Como alguém diz, tiveram a graça de o ter e agora outros vão ter essa mesma graça. Porque é mesmo uma graça tê- lo como timoneiro, tê- lo ao leme.

    É muito bonito o que sentem pelo Padre António. Enche- me de alegria.

    Um abraço em Cristo para vós, gente do Estoril.

    Um beijo do tamasbho do Amor de Deus para si, Prior.

    JRose

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  9. Os «velhos do Restelo»apenas ficam amargurados, porque nunca se sentirão bem com ninguém, porque o coração está em turbilhão em desamor e vão consumindo a vida que Deus lhes deu com algo efémero.
    Quando alguém dá a Sua vida ,o Seu caminho,as Suas energias tudo consumido pelos outros sem descanso,inova ,desinstala dizendo-nos, não o que queremos ouvir ,mas sim a verdade nua e crua,não é fácil agradar a todos,mas ainda bem que assim é porque é coerente, tem Jesus Cristo em todo o Seu ser e tem muita gente que o ama e estará sempre consigo onde tiver ...em pensamento ...em visita...e de outros modos .
    Muitas Felicidades ,Deus está no «Pastor»que dá a vida pelas Suas ovelhas.

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  10. Sinto muita tristeza pela partida do nosso querido Prior ,muita mesma e comoveu-me o comentário e a solidariedade do comentário de JRose é na verdade como estão nossos corações ,tristes mas com esperança que não seja um adeus mas sim um "até já".

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  11. Saudoso Padre António,sim porque já sinto a saudade a apertar o meu coração e tambem os de tantos que deixa .Mas Deus sabe«Por um Bem Maior»... Seja Sua vontade feita .Doi doi muito ,mas eu ouvi vezes sem conta «amai,rezai,sacrifícios,despojamento,enfim,tudo por ELE .Acredito que o novo lugar para onde vai tambem precisa de um Prior frontal,radical,e seguro nos seus actos e ideais de cristão e bom Pastor.Deus o proteja .Obrigada pelo o que tanto se deu pela paróquia do Estoril,pela quantidade de jóvens que acreditaram e o seguem .Ai que será de alguns? só Deus sabe ...continuarei a rezar por si.e força e coragem para continuar a incêndear corações com o amor de Jesus Cristo que tanto o interpela .um grande abraço e até sempre Padre António.

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  12. Lamento profundamente a sua partida. O seu discurso e exemplo de radicalidade sempre me apelou ao coração.
    Votos de felicidades e até sempre.

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  13. Pe António,

    Tenho o maior desgosto da sua partida, apesar de não ter grandes conversas consigo, quando passa por mim tem sempre a palavra acertada para me desmascarar, parece que me lê a mente. Marcou-me muito a sua maneira de viver e de estar na vida como padre, mais desportivo, mais activo, que fumava etc. mas a pouco e pouco fui percebendo que era essa atitude que me levava pa dentro da igreja para o escutar, por isso Pe, António, desejo-lhe as maiores felicidades,

    Cumprimentos,

    Vasco

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  14. Ana Cortez de Lobão30 de maio de 2011 às 01:03

    Pde António, acredito piamente que cada um vai desenhando a sua vida mas que Deus a vai Escrevendo também... Destes 5 anos na Paróquia do Estoril só retenho aquilo que de positivo e de bom trouxe e representou; houve certamente coisas que não terão corrido tão bem, não sei, não quero saber; sei sim que fez, faz e continuará a fazer o melhor que pode, que é o mínimo a que qualquer ser humano deve ambicionar em tudo o que faça, imagine-se quando diariamente se tem o grande desafio de fazer chegar Cristo a todos e cada um, como costuma dizer. E da minha parte quero que saiba que merece todo o meu respeito e carinho, porque todos sabemos que o Estoril é uma paroquia que exige muito, muito, mesmo muito, demais para um só pároco. E o que deixa ao Estoril é enorme! Bem Haja!
    Tenho pena que nos deixe, claro, mas acredito que para onde for é para dar o seu melhor e levar Cristo a muitos que ainda não O conhecem.
    Rezo sempre por si e pela sua Missão. Sei que é uma grandiosa Missão!
    Com todo o carinho
    Ana Cortez de Lobão
    30 de Maio 2011

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  15. Nada podemos dizer que é nosso,só o tempo que é agora neste instante,de resto nada nos pertence,o céu sobre a minha cabeça,a terra sobre os meus pés,o mar,os pássaros que voam,o pòr do Sol,aluz,a azáfama... nada me pertence...só no instante da minha contemplação...Mistério da vida...Mistério de Deus.

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