sábado, 28 de maio de 2011

"Nunca por chegar ao fim..."

"Ninguém disse que os dias eram nossos
Ninguém prometeu nada

Fui eu que julguei que podia arrancar sempre
mais uma madrugada
Ninguém disse que o riso nos pertence
Ninguém prometeu nada
Fui eu que julguei que podia arrancar sempre

mais uma gargalhada

E deixar-me devorar pelos sentidos
E rasgar-me do mais fundo que há em mim
Emaranhar-me no mundo
e morrer por ser preciso
Nunca por chegar ao fim

Ninguém disse que os dias eram nossos
Ninguém prometeu nada
Fui eu que julguei que sabia arrancar sempre
mais uma gargalhada

E deixar-me devorar pelos sentidos
E rasgar-me do mais fundo que há em mim
Emaranhar-me no mundo
e morrer por ser preciso
Nunca por chegar ao fim".

Porque cada dia é uma aventura de entrega de amor, porque cada momento nos pode desvelar o sentido da eternidade, porque cada acontecimento pode trazer consigo uma «meta» a alcançar, porque cada segundo da existência nos pode segredar a infinitude de Deus, ouso "Rasgar-me do mais fundo que há em mim", para aceitar na paz e no abandono próprio de quem quer ser mais de Deus do que da lógica dos homens os «sinais» que me pedem sejam seguidos como «caminho, verdade e vida» da minha própria vida.
E querer, querer muito, desejar profundamente "morrer por ser preciso (e) nunca por chegar ao fim". Como afirma Jesus categoricamente no Evangelho «ninguém me tira a vida, sou Eu que a dou espontaneamente», creiam que não é por algo ter chegado ao fim, por alguma obra ter terminado, por um objectivo ter sido alcançado... é antes morrer por ser preciso, ou seja, acreditar que é preciso que esta realidade aconteça. É morrer por ser preciso o testemunho do despojamento e da obediência, a referência da disponibilidade e do bem maior, o exemplo da finitude das palavras e das obras... para aceitarmos e acreditarmos que o Céu sabe mais, imensamente mais que cada um de nós e nós todos juntos!
Na verdade, "ninguém prometeu nada"; fui eu, fomos nós, que julgámos que havia mais tempo para "uma gargalhada", para uma nova "madrugada"! Com efeito, "ninguém disse que os dias eram nossos" ou que "o riso nos pertence"... Nós é que julgamos que fazemos o tempo e a história, num juízo bom, sereno, bondoso, pacificador... mas, afinal, nada nos pertence!
Uma dúvida, um boato, uma mágoa, uma tristeza, uma lágrima, a saudade, de tantos segundos, momentos e dias, apenas legitimam, e bem, a verdade do coração de quem caminhou por bem e para o bem...
E porque "os dias não são nossos", há que os entregar e confiar ao Senhor do tempo e da eternidade. E confiar, abandonar-se "desesperadamente" para que em nós permaneça a paz e a esperança.
Se duvido, se me custa, se me dói, se «arde» bem cá por dentro, mentiria descaradamente se afirmasse que «não»!
Mas quero, agora ainda mais, com quem aqui no Estoril me ensinou a ser de Deus, com quantos me ensinaram a amar a Igreja, com todos os que me testemunharam a beleza e a força de nos abandonarmos ao Crucificado, experimentar a paz e a fé de quem se sabe «nada» a não ser que quer teimar em caminhar...
Muitos dias teremos ainda em conjunto, em comunhão, à volta do Altar... momentos únicos que poderão ser irrepetíveis se tiverem a marca do amor e da docilidade ao Alto e ao Espírito que se derrama sobre nós... De mãos dadas, de corações erguidos ao Coração de Deus, sejamos ainda mais esta Igreja, esta Comunidade que se sabe e sente de Deus. Um Deus que espanta, que surpreende, que nos prega partidas, mas que nos ama infinitamente...
E se cada noite adormecer a rezar a agradecer tudo e todos quantos Ele colocou na nossa vida e foram e são presença silenciosa, discreta, mas verdadeiramente do Amor que Ele é? E se já hoje os meus últimos pensamentos forem a agradecer os sorrisos e as gargalhadas, os sonhos e as obras, as esperanças e as cumplicidades que nos foram dadas viver?
Amanhã será diferente. Deus não nos desilude nunca; surpreende, mas para nos elevar até Ele. Emaranhados no mundo, morrendo por ser preciso e não porque algo chegou ao fim! Porque o amor, a verdade, os corações cheios, não chegam nunca a experimentar esse fim!

13 comentários:

  1. Em oração... em acção de graças... sempre!

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  2. "Nunca por chegar ao fim "Padre António
    Mas sim por um começar, que Deus LHE vai pôr em Suas Mãos,em Seu caminho, outras vidas que precisam da Sua força,do Seu amor e entrega total até ao limite.
    O meu desejo de todo o coração é que seja feliz ,que o Seu coração tenha Paz ,para continuar a SER todo de Jesus Cristo ,o «Pastor» de que todos querem e amam.

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  3. Padre António
    Deixar que a vida seja guiada pelo Espírito Santo, que nos ilumine,nos fortaleça e nos dê discernimento para na Graça de Deus ,aceitar o que ELE tem para todos nós, com serenidade,nada é definitivo na vida,só em Deus repousa nossa alma.
    Vamos em comunhão à volta do Altar e com os olhos na Cruz, rezar e pedir Senhor faça- se segundo a Tua Vontade, só ELE sabe o que é melhor para todos nós.
    Bem haja, boa noite

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  4. Eu quando leio todo este partilhar é que fico perante a realidade ,porque eu fora disso, não consigo pensar,nem admitir que nos vai deixar,apodera-se de mim uma angústia,uma tristeza imparável,apetece-me fechar os olhos e parar o tempo até voltar tudo ao normal.
    Porquê meu Deus? tantos jovens que se estão a sentir perdidos e quem me desinstala ?onde fica aquele olhar ,as Palavras abrangentes e ao mesmo tempo únicas para cada um de nós.
    Há tristeza em SEU olhar, cansaço,mas com muita Fé e Amor em Cristo e sempre pronto para fazer a SUA Vontade ,de olhos na Cruz,Bem haja Padre António pela lição de vida que nos está a dar .
    Nós estamos sempre consigo ,em qualquer parte .
    beijinho

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  5. Padre António

    Desejo, do fundo do meu Coração, que o novo caminho que lhe está reservado por Deus seja a oportunidade de fazer com que cada vez mais Corações se deixem arrebatar pelo Amor a Cristo. É com grande tristeza que temos que abrir mão de um Pastor tão leal e dedicado. Porém, ao fazê-lo, estaremos a dar prova de grande generosidade. Ao acolhermos de braços abertos o novo Pastor estaremos a honrar o trabalho que fez nesta paróquia e a demonstrar que nos deixou os Corações em Paz e plenos de Amor. Porque sou humana também choro a sua partida, mas sei que tenho que aceitar os designíos de Deus. Ele sabe o que tem para nós. Hoje lá estarei na sua última Oração comunitária.Dia 7 de Julho lá estaremos todos para o Abraçar na Fé e no Amor a Cristo - em especial os que, como eu, vão receber o Sacramento do Crisma, numa data com tanto significado para si e para a Paróquia.

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  6. Padre António
    obrigado pela noite de oração ,pela noite de encontro com Deus,pela entrega ,emoção ,partilhar.
    Bem haja não nos deixe

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  7. Estive hoje todo o dia com esta página aberta...Também todo o dia me lembrei da Missa na praia do Tamariz...
    Gosto muito, muito de si e não queria que se fosse embora... Porque a Paróquia não será a mesma sem si, como o Estoril não seria o mesmo sem a praia.
    O que a Aninhas diz é o mais sensato: devemos ser obedientes e deixá-lo partir serenamente para outra comunidade.
    Mas se eu dissesse que é isso que sinto, não diria a verdade...

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  8. Paroquianos do Estoril31 de maio de 2011 às 21:47

    Grande Pe. António que palavras poderemos nós dizer para explicitar os sentimentos que nos vão na alma e no coração? Desculpe assinar assim este comentário mas o que sinto, o que vejo, em mim e à minha volta é um sentimento comum de tristeza, de perca, de não-sentido! O que o Pe. António fez por nós, pelos nossos filhos, pela nossa paróquia nunca ninguém conseguirá agradecer, repetir, continuar! Vai fazer-nos demasiada falta; os nossos jovens, mesmo com os seus pais, sentem-se órfãos desse «pai» espiritual, desse «irmão» que o senhor sempre foi para todos eles e, especialmente, para os que mais precisavam da sua presença, do seu abraço, da sua palavra ora amiga ora exigente... Que será deles?
    Desculpe a aparência de não fé no futuro e na pessoa que Deus nos enviar! Mas é a nossa humanidade a «gritar» uma dor que nos invade a alma.
    Creia que esta Paróquia o ama muito. Lhe deve imenso. Por si rezará sempre...

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  9. Padre António
    Eu ainda não realizei que isso seja verdade,e está muito difícil de aceitar , todo os dias peço a Deus que nos ajude, porque eu não consigo ver a Paróquia, o Estoril sem o nosso Prior.
    A angústia é profunda porque nós somos a Sua família ,mas pode acreditar que também é a nossa família.

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  10. Mais uma mensagem para dizer que gosto muito de si, 70x7 muito! Como sempre nos tem lembrado, nunca é demais dizer que gostamos de alguém!

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  11. Há padres e há padres. Há padres que nos cativam e são responsáveis pela nossa força interior, pela nossa vivência cristã. O Padre António não pertence ao Estoril, porque...um padre tem de estar ao serviço de Deus. Mas, neste caso específico, temos um homem que deu muito ao Estoril, que fêz com que muitos jovens voltassem a ´abrir a porta´...este padre tem de ficar.

    Houvi dizer que há uma petição que podemos assinar para que o Pe. António não se vá embora. Se todos assinarem, disseram-me que era a única possibilidade de o Estoril continuar com o seu Prior.

    Pessoalmente digo que é triste, é muito triste, vermos um homem que tanto tem dado à Paróquia, à Senhora da Boa Nova, um homem que ´revolucionou´ a Igreja do Estoril, fêz com que os jovens gostassem e se sentissem bem em ir à missa, encorajou tantos a enriquecer e a seguir os caminhos de Deus. Assim como deixou marca em Arroios, no Estoril não deveria deixar, se houvesse uma maneira de o Padre António não sair.

    Nós: crianças, jovens, adultos, necessitamos de alguém que nos ajude na nossa caminhada, que nós dê força, que nos faça crescer na fé.

    Sei que as nomeações do Patriarcado estão para breve, mas se houver bastantes assinaturas...quem sabe se o Padre António não continuaria a ser o Prior do Estoril ?

    Todos juntos somos uma força e temos que mostrar a necessidade que o Estoril tem de continuar com o mesmo Pároco.

    Juntemos as nossas mãos

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  12. Já assinei a petição, se pudesse assinava muitas vezes mas não posso ,que ninguém fique parado à espera que as coisas aconteçam ,pegar numa caneta e assinar...procurar
    Queremos o nosso Prior connosco ,jovens acção.

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  13. O poema "Nunca por chegar ao fim" é muito bonito, mas não é verdade que ninguém prometeu nada. Deus prometeu tudo, prometeu a vida eterna através de Jesus. O cristianismo é por excelência a religião da promessa. O próprio Homem é promessa. Distingue-se do resto da criação pela capacidade de prometer e de ter esperança em promessas. Os dias, os dias na verdade também são nossos porque eu creio que Deus fez o tempo para o Homem e não o Homem para o tempo! Creio que o Homem não é tragado pelo tempo mas consegue rasgá-lo até à eternidade. O Homem é capaz de infinito!

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