sexta-feira, 27 de maio de 2011

"Fazer-se ao caminho"

"Luz terna, suave, no meio da noite,
Leva-me mais longe…
Não tenho aqui morada permanente:

Leva-me mais longe…
Que importa se é tão longe, para mim,
A praia aonde tenho de chegar,
Se sobre mim levar constantemente
Poisada a clara luz do teu olhar?
Nem sempre Te pedi como hoje peço
Para seres a luz que me ilumina;
Mas sei que ao fim terei abrigo e acesso
Na plenitude da tua luz divina.
Esquece os meus passos mal andados,
Meu desamor perdoa e meu pecado.
Eu sei que vai raiar a madrugada
E não me deixarás abandonado.
Se Tu me dás a mão, não terei medo,
Meus passos serão firmes no andar.
Luz terna, suave, leva-me mais longe:
Basta-me um passo para a Ti chegar".

Demasiadas vezes cantamos letras de canções esquecendo-nos que elas podem dizer e significar mais, imensamente mais, que simples melodias, que são muito mais que meras estrofes, que ultrapassam acertos ou rimas...
Elas, as palavras, têm, por vezes, a graça de significar o mais fundo de nós mesmos, conseguem dizer o indizível, falar dos «impossíveis» que nos encharcam a alma! As palavras, tantas vezes, são essa «voz» e essa «vez» que fazem o ser mais profundo do nosso coração...
"Não tenho aqui morada permanente"!
Todos o sabemos, todos o cantamos, todos o entendemos, mas nem sempre o incarnamos!
Sabermo-nos peregrinos, em ideais e pensamentos, é muito distinto da experiência real da precariedade do nosso caminho, sempre renovado, infindável e desconhecido, até ao dia em que seremos completamente de Deus.
Não, não é fácil viver a experiência do desapego e do desassossego  próprios de quem ousar ser de Deus! Há sempre um mais longe, um mais além, que cabem na nossa inteligência mas escapam por demais do próprio coração.
Nesta «hora» singular, onde o nosso pensamento ganha a «velocidade da luz» é preciso dizer, teimosamente, mesmo que baixinho: "Esquece os meus passos mal andados, Meu desamor perdoa e meu pecado. Eu sei que vai raiar a madrugada E não me deixarás abandonado"!
E caminhar, e avançar, mesmo que mais devagar, sabendo e acreditando, que na praia aonde temos de chegar estará sempre «um olhar», «uma presença», «um colo» divino que serão luz que ilumina, paz que se oferece, vida que se experimenta...
Há um abrigo, há um acesso, uma praia outra, enxertada no mesmo «Mar» que é Deus. Onde se poderá navegar apenas, sem medos, com a consciência da Sua mão que, mesmo não querendo, nos leva mais longe, mais longe...Esquece os meus passos mal andados, Meu desamor perdoa e meu pecado. Eu sei que vai raiar a madrugada E não me deixarás abandonado

Simplesmente porque em lugar algum temos uma morada permanente!
Ó Luz terna e suave, vem e ilumina escuridões e guerras, noites e batalhas, cinzentos e solavancos que intentam submergir a alma e o pensamento. Vem, ó Luz divina, e faz que a madrugada que está para raiar tenha o «sabor» e o «ar» de quem em Ti mergulha, em Ti se deita e deleita, em Ti se entrega e abandona.
E que nesse passo que nos basta para a Ti chegar, não esqueçamos os outros passos já andados, por tantos e tantos que entraram nessa mesma aventura de fazerem o caminho que nos leva sempre mais longe, sem sabermos onde a vida nos deterá...
Que o passo que nos falta para a Ti chegar não nos atire para o mundo da indiferença ou da ingratidão, para as malhas das cegueiras que não nos deixam agradecer e contemplar, surpresos, cada um desses nobres corações que connosco se fez ao caminho...

8 comentários:

  1. A vida faz-se mesmo assim! DE alegrias e tristezas. Estas são aquelas que nos invadem agora o coração enquanto paroquiano seus! Tristeza porque lhe queremos muito, porque consigo aprendemos tanto, porque ficamos com a sensação de orfandade!
    Quantas vezes lhe deveríamos ter dito, com palavras e com gestos, o quanto a sua presença para nós e no meio de nós era fundamental?! Fomos adiando, fomo-nos habituando, perdendo a capacidade de espanto (que tanto nos fala) e deixámo-nos envolver pela normalidade de algo, de alguém, que tem o dom de ultrapassar essa mesma normalidade!
    Parece que não ficará longe de nós! Assimm Deus o permita. Havemos de o procurar e nesse encontro serenar as cicatrizes que agora se encontram bem abertas nos nossos corações!
    Creio que vale sempre a pena: bem haja Pe. António.

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  2. Olhe: eu só aceito pacificamente a sua partida se for para melhor servir a Igreja! O Pe António mostrou-nos o que é ser "de Deus"... espero que tenhamos pés para andar sem o seu exemplo na nossa comunidade.
    Se tudo isto se passa por razões tipo "palacianas" que nos fazem sofrer a todos e principalmente a si, então acho que devemos fazer uma manifestação e assinar a petição ao Sr. Patriarca para que fique cá mais tempo até que nos deixe por vontade de Deus e para melhor servir a Igreja.
    ...não posso pensar...puf!

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  3. Há pouco li num comentário duas coisas uma deixou-me ainda mais triste que era como se a partida fosse eminente,muito próxima e outro animou-me o coração,entrou uma luz ao fundo do túnel,uma esperança, que não ficava muito longe,será?qual será a verdadeira?
    "Ó Luz Divina"Acalma este coração ,dando~lhe Paz serenidade para receber outros corações que vão precisar DELE,como eu, lembro-me quando Seu olhar, me fazia olhar para dentro de mim e me fazia sentir o quanto eu estava longe de Cristo
    fazendo -me sentir sede ,sede de Cristo ,que eu desconhecia, aquela necessidade que abrasa o coração,ao caminhar para o altar de mãos vazias e receber Jesus ,é receber a Graça ,vida tudo .
    Padre António vai estar sempre na minha vida e no meu coração.

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  4. Padre António: sei que não respondeu à questão que lhe coloquei nos coments anteriores a este post.Talvez não lhe diga nada e nada me tem a dizer. Tudo certo. Tudo claro. A nada é obrigado. Fico com a certeza que sai triste mas cheio de fé porque as suas forças não terminarão nunca, nessa busca da Luz.

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  5. Padre António já carreguei «Aqui»
    já me estou a sentir menos só
    Bem haja,sinto que continua connosco, longe mas perto

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  6. Obediência... confiança... entrega...
    Tudo por um "Bem Maior", tudo por Aquele que nos ama incondicionalmente.
    Terei saudades... muitas... mas não posso ser egoísta ao ponto de não querer deixá-lo partir. É Deus, através do Sr. Cardeal Patriarca, que o envia... e o Pe. António obedece, confia e abandona-se...
    E partirá, no final deste ano pastoral, para "fazer a SUA vontade"
    Sempre em oração pori, consigo. Sempre...

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  7. EU estou com a pessoa que fez o comentário "Cecília," não sei quem é, mas é preciso é ter a petição na mão para assinar,essas razões tipo «palacianas» sem muito bem como é, já fui confrontada (o) , várias vezes, até para não escrever no blogue.

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  8. Aquilo que mais importa é rezar neste momento. Para que todos quantos se sentem e sabem envolvidos neste proceso de transição, que comporta dor, saudade, incompreensão, lágrimas, desalento, saibam cada um fazer a vontade de Deus. Se alguma coisa o nosso Prior nos disse tantas e tantas vezes foi o refrão do Salmo que diz: eu venho, Senhor, para fazer a vossa vontade». Este é o momento de toda a Paróquia ajoelhar e rezar a Deus que aquio que nos importa e nos move é apenas fazer a Sua vontade mais que a nossa.

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