domingo, 8 de agosto de 2010

"Voar"
.
(...) E algo em mim sobrevive
Desesperadamente
A ponte
despida e solitária
agarra-se à terra e ao tempo
entre golpes de raiva e ternura
os meus sonhos e os meus fracassos
Há escuro
Na inquietação do vento
Nas luzes esquecidas do rio
E tentam roubar-nos os dias
Tentam calar-nos as forças
Mas algo em mim sobrevive
Desesperadamente
Quero que por fim nos traga o sol
Andando pelo rio, perdidos na claridade
Hoje só quero deixar viver este momento

Hoje só quero caminhar pela cidade
No teu carro
Cruzámos as fronteiras
Bebemos cervejas e sonhámos
De tudo o que há sem regresso
Quem guardará o passado?
Entrego-me
Em passos sem destino
Até onde a fúria se acalma
Vou procurando a gente
Que à noite na rua cantava
".
.
Porque a vida se faz vivendo e a história se escreve existindo, porque o tempo não nos pertence nem o destino é feito por nós, importa essa decisão permanente de «busca» e de «inquietação», de «sentido» e de «entrega», de «desassossego» e «ousadia» a fim de nos deixarmos arrebatar e conquistar por Deus bem mais que pelas promessas sempre vãs dos homens de cada tempo!
«Lobos revestidos de cordeiros» vagabundeiam sempre ao nosso lado, intentando apenas aniquilar sonhos e projectos, aventuras e horizontes...
De facto, em cada tempo e lugar, "tentam roubar-nos os dias, tentam calar-nos as forças" porque temem a beleza do amor, a grandeza da verdade, a nobreza da humanidade. «Lobos» sequiosos, sedentos, de «sangue» que alimentem frustrações e ciúmes pessoais, que protelem egoísmos e fracassos interiores, usando e abusando do nome santo de Deus, não são raros nos cruzamentos das vidas de cada um de nós!
Mas urge cantar, mas importa gritar, mas é preciso viver nessa certeza inabalável que canta o poeta: "mas algo em mim sobrevive desesperadamente", crendo que por fim brotará o sol da justiça e brilhará a luz da ternura que transforma os corações.

"Entrego-me
Em passos sem destino
Até onde a fúria se acalma
Vou procurando a gente" que comigo ousa o sonho de uma nova humanidade, de uma Igreja outra, onde as suas raizes são a paz e a transparência, a verdade e a confiança, a amizade e a vida partilhada em verdade.
Talvez seja mesmo por aí o nosso caminho: em passos sem destino, sem certezas, sem rotas definidas, senão mesmo esse Sinal eloquente e indestrutível que é um Madeiro no cimo de um monte!
Algo em mim sobrevive, desesperadamente, pois que é a Deus que quero ser fiel, a Ele que busco servir, n'Ele que me quero encontrar, a Ele que quero agradar.
Desistam, oh tristes vidas, oh pobres corações, de tentarem roubar-nos os dias ou calar-nos as vozes! Não é a essa mediocridade que sucumbimos, a essas ameaças que retrocederemos na caminhada; é Deus e a exigência e radicalidade da Sua Palavra que nos sustenta. Hoje. Sempre. Até à eternidade.
"Hoje só quero deixar viver este momento", "quero que por fim nos traga o sol" Aquele que sonda os corações e lê o mais recôndito das nossas almas.
Caminhando pela «cidade», cruzemos fronteiras, ousemos os sonhos, que jamais cobardia alguma conseguirá obstruir o nosso vôo de liberdade e de vida.

8 comentários:

  1. Quando numa ponte isolada, tudo embate é muito difícil de a manter de pé,segura, livre ,nem todos os alicerces nela contida a sustentam, assim nós seres humanos com nossas fragilidades, incertezas e muito mais.
    Essa busca de «incertezas,inquietação ,entrega» em que o meu coração, pulsa por Deus a verdade e a vida em Seu amor, sempre com muita fé olho o céu e digo Senhor dá -me a Tua Paz.
    Padre António é um coração fiel, em que Deus depositou toda a Sua força ,concedendo esse Dom maravilhoso,amar a Deus « até ao fim do fim». No que este pobre coração o poder servir pode dispor «até ao fim do meu fim».
    Bem haja por tudo

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  2. "Se me perseguiram a mim, também vos hão-de perseguir a vós."
    Não gostamos... dói, choramos... mas continuamos em frente, carregando e oferecendo a cruz de cada dia.
    Porque só Deus é Caminho, é Meta. Porque "é grande a recompensa no Céu."
    Caminho ao seu lado, rezando...

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  3. É assim que temos que viver, é assim que temos que andar, com tudo e todos os que nos rodeiam, temos que viver com a certeza de que "é a Ele que queremos ser fiéis". É mesmo isso! Ele conhece-nos, a cada um de nós e "lê no mais recôndito das nossas almas"! Temos que caminhar sempre com a certeza de que "o Senhor é meu Pastor" e por isso nada temo! Obrigado Padre António!

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  4. «Voar»
    Voa o meu coração ,o meu pensamento e todo o meu ser para Deus,até ao dia em que estarei perante.
    Pensamento é verdadeiramente livre,ninguém o comanda ,nem nós, como o vento,a chuva e tudo o que advém da Natureza só DEUS o detém.
    Só em Deus se acalma, todas as nossas ansiedades e o nosso caminhar.

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  5. É muito difícil subir ao Monte,fazer uma subida requer sacrifício e mais quando nosso coração encontra pouca disponibilidade ou pretextos para o não fazer e acomoda-se com algo que pensa ,está muito bem e ilude-se.
    Mas vale sempre a pena subir por mais que nos doa, soframos ,porque Deus nos espera de braços abertos a todos nós,com Sua Infinita misericórdia.
    Só o caminho de Jesus Cristo acalma a nossa inquietude e nos deixa felizes.

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  6. "Entrego-me
    Em passos sem destino
    Até onde a fúria se acalma
    Vou procurando gente"
    Tantas vezes faço destas palavras
    a minha realidade.
    Vou procurando gente que serena minha alma e tudo fica mais claro.
    Deus está em toda a «gente»e nos ilumina

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  7. « De tudo o que há sem regresso. Quem guardará o passado?»
    Nós. Cá dentro. E do passado fazemos presente e do presente renasce um futuro

    A Caminho

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  8. Padre António,
    Hoje tive um dia tão difícil, e agora, à noite, à procura do fresco, nestes dias abrasadores, a navegar um pouco, deparei-me com este seu blogue,- do prior da minha paróquia -, e este "algo em mim sobrevive desesperadamente" tocou-me e reconfortou-me. Para mim, que sou tão imperfeita, é por vezes difícil acreditar e manter-me junto de cristo com esta simplicidade. Obrigada pelo consolo que me trouxe.
    (Não sei fazer comentários e por isso escolho o "anónimo)
    Ana P.

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