"Reflectir, para agir..."
O tempo de férias ajuda, naturalmente, a um olhar mais aprofundado sobre nós mesmos; um olhar mais preciso acerca da nossa vida e a sua envolvência, ou seja, sobre quem somos verdadeiramente, que temos feito, que nos faz "correr", que horizontes, vontades, sonhos, desafios... comandam o coração...
Este Domingo a Liturgia da Palavra ajuda nesta reflexão que se pede a cada um seja sincera, autêntica, profunda, penetrante...
A Palavra de Deus desafia a olhar para o Infinito, para a
Eternidade, e a acreditar que esse é um tesouro, ou melhor, o tesouro, que havemos de querer adquirir, conquistar, com todas as nossas forças, com toda a nossa inteligência, com todo o nosso coração.
Diante de uma sociedade e de um tempo que apela desmesuradamente à conquista de coisas, de bens, nós cristãos, deveríamos ser anunciadores, profetas, de uma outra cultura, de uma nova "ordem", de um renovado "sentir" e "pulsar" da existência!
Na verdade, decerto já todos percebemos que a nossa felicidade e bem estar, a nossa realização pessoal, humana, não consiste jamais no adquirir mais ou menos coisas, no vestir esta ou aquela marca, no conduzir este ou aqueloutro automóvel...
Há um "tesouro" maior, supremo, definitivo, que importa acreditar, aceitar, acolher, viver, para o poder, com credibilidade, partilhar e oferecer a quantos ainda se perdem e padecem dessa enfermidade tremenda que é a "fome" de protagonismos mundanos, a sede de coisas e de bens, uma existência levada à saciedade e ávida de "posses" e "poderes" que desaguam sempre - mais cedo ou mais tarde - em angústia, solidão, desespero, insatisfação, conformismo e ansiedade nunca resolvida!
Não, não temos que sublinhar, abençoar ou pactuar com este mentalidade consumista, idólatra e vazia que pretende encharcar-nos de convicções de que valemos pelo que temos ou não temos; nós, cristãos, deveremos ser os primeiros a viver essa cultura outra que nos realiza e serena que nos move e assegura que valemos pelo que "somos" e jamais, e nunca, pelo que temos, pelo que amealhámos, pelas coisas conquistadas!
Em férias, bem podemos reflectir acerca de que "cultura", de que caminhos, temos entregue o nosso coração e a nossa vida. Particularmente nós, ditos discípulos de Jesus de Nazaré.
De facto, aplaudirmos as "Bem-Aventuranças", afirmarmo-nos felizes e realizados porque seguimos a Cristo, "embandeirarmos" em profetas da paz e da justiça, da simplicidade e da verdade, anunciarmos por palavras que sonhamos e queremos um mundo mais fraterno e solidário, etc., e depois sermos os primeiros "porta-vozes" da desigualdade, do capitalismo selvagem, da ânsia e da ganância, da inveja e do ciúme desenfreados, é sinal de que estamos longe, mesmo muito longe de autenticidade e verdade da fé que professamos!
Em férias, um libertador exame de consciência, é um excelente tempo bem aproveitado e retemperador para um "amanhã" breve que se avizinha sempre perto...